segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Debate virtual

O texto que segue foi escrito como resposta a outro, disperso no caos da internet.

Que diabos é um “capitalismo aperfeiçoado”?! Onde tem isso? Nos EUA? Se for, a que preço? Outra coisa: a relação entre explorados e exploradores (base do sistema) pode ser reduzida ao asséptico “vendedores e compradores de serviço que se relacionam mediante um contrato”? É só isso mesmo? Bom, a dona de uma butique no Iguatemi vende produtos que são comprados por alguém, certo? Roupas, calçados, acessórios de couro etc. Tem três ou quatro vendedoras trabalhando das 14 às 22 horas, com uma hora para lanche. As meninas ganham, se ralarem bastante, em torno de setecentos reais. Ela, a dona da loja, uns sete mil líquidos – descontados todos os gastos no mês (valor também hipotético). No final do expediente, as empregadas voltam pra casa, no Conjunto Ceará ou Parangaba, de Av. Paranjana ou Grande Circular II. A dona da loja, de Corolla, que é estacionado na garagem para três vagas do condomínio fechado na Água Fria, pertinho do Porto das Dunas. Nisso não há qualquer traço de exploração, eu imagino, mas apenas o resultado natural de uma sadia competição.

Assim como também não há exploração no agronegócio ou na carcinicultura ao longo do litoral cearense. As populações que viviam da pesca (viviam, sim, não vivem mais) foram ameaçadas por jagunços e expulsas. Muitos vieram pra Capital mendigar, roubar e vagar pelas ruas. O capitalismo não tem mesmo nada a ver com isso.

No Ceará, milhares de índios e índias têm suas terras invadidas por empresas como a Ypióca e Ducôco (o nome dela é com acento mesmo). Como os pescadores, são ameaçados com bastante freqüência até que aceitem os termos propostos pelos “vendedores de serviços”. Os indígenas são obrigados a ter seus recursos hídricos exauridos. Nisso também não há exploração.

Vocês sabem por que temos liberdade de expressão? Porque é conveniente tê-la. Sem ela, um setor dos negócios despencaria consideravelmente, meus caros. Quando a liberdade não era tão bem-vista, ela simplesmente não existia. Não foi assim na ditadura? Parece que nosso sistema não é tão bonzinho quanto parece. Chego até a desconfiar de que a invasão do Iraque tenha sido motivada unicamente por petróleo. Mas, claro, um sistema tão justo não sacrificaria a vida dos próprios americanos apenas para garantir mais lucros aos negócios da família Bush. Isso seria realmente terrível. Melhor acreditar que o capitalismo se interessa mesmo em propagar o regime democrático e combater a tirania, pôr fim aos diversos e implacáveis “Eixos do Mal”.

Fico por aqui, meus caros. Se fosse vocês, teria mais cuidado ao defender um sistema que tem pecados tão terríveis quanto os do comunismo. Antes que perguntem se eu deixaria o Brasil pra viver em Cuba, eu respondo: nunca. Por outro lado, vocês não vão me ouvir dizer que o capitalismo traz enormes benefícios a todos nós, sem distinção. Traz aos filhos da classe média, que podem cursar jornalismo numa universidade pública. Mas vocês também devem achar que tudo isso se resume a uma questão de mérito, certo?

Aí eu me pergunto: por que somente brancos com renda mensal superior a meia dúzia de salários mínimos (valor hipotético) têm méritos? Os estudantes de escola pública são realmente menos aplicados que os bem alimentados meninos e meninas do Ari de Sá e 7 de Setembro, dois grandes colégios de Fortaleza? Meu Deus, existem coisas que não entram na minha cabeça! Por exemplo: eu conto nos dedos de uma mão os alunos de origem pobre que conseguiram vencer o vestibular e hoje estudam jornalismo ou medicina ou direito ou ciências da computação na Federal do Ceará. Por quê? São menos inteligentes que você ou eu?

O ano da víbora

“Entra ano, sai ano. Confesso que isso começa a me enjoar.”

Essa frase é da víbora de Chateaubriand, o genial Joel Silveira (1918-2007). 2008 é um ano que promete ser bem pior que 2007. 2008. 2008. Um bom ano para se morrer, quem sabe. Um ano na qual as feridas abertas não se cicatrizarão. Pois é, meu caro Joel, estou contigo e não abro, meu velho.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Folgados até 2008


Pausa forçada até o dia 2 de janeiro do ano vindouro. Se der, volto aqui amanhã, 31, pouco antes da passagem de ano. Quero comentar Manderlay, a segunda parte da trilogia “Estados Unidos: terra das oportunidades”, de Lars Von Trier, e Cidade Baixa, de Sérgio Machado.

Era isso. Demos folga aos nossos colaboradores. Não esperem muita coisa até quarta-feira da próxima semana.

Fiquem em paz.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

E o gasto foi pra segurança...

É, a prefeitura desistiu da área especial reservada a dois mil convidados.

O número de convidados, dentre eles autoridades, foi reduzido para 200 pessoas que serão acomodadas num espaço ao lado do palco. Luizianne assegurou que o investimento para a área fechada, de R$ 269 mil, será destinado agora para a segurança do evento.
(...)
Segundo ela, o dinheiro que seria investido na área para convidados servirá para instalação de 33 câmeras de vigilância eletrônica no aterro e nas vias de acesso e ainda para contratação de 200 seguranças privados.
(...)
Do efetivo de 460 PMs, 300 estarão no aterro e o restante nos demais bairros onde haverá festa. Também 300 homens da Guarda Municipal estarão no aterro, além de 60 bombeiros.


Da notícia escrita por Érica Azevedo (O Povo, 27/12).

Se 300 PMs estarão na praia e os demais 160 nos bairros onde tem festa (Conjunto Ceará, Barra do Ceará e Messejana), o resto da cidade não vai ter policiamento. É isso ou eu não entendi direito?

"Nunca existiu área vip na festa de Réveillon como reverberaram por aí. Mas, para evitar essa frescura política de quem não entende que a festa não é da Prefeitura, é da cidade, de quem quer perseguir a realização da segunda maior festa de Réveillon do Brasil, a gente acaba com essa área e reduz para 200 convidados", declarou a prefeita.

(Eu quase escuto a mulher falando quando leio isso).
Teve pressão do jornal, da oposição e da opinião pública (de quem ficou sabendo). Se houve ou não perseguição, aconteceu aqui um fato interessante: a prefeitura recuou. Alguns podem dizer que isso é prova de culpa, e já ouvi que não adianta esse remendo porque a verba não foi redirecionada pra saúde... Enfim, não dá mais pra reclamar que vai ter dinheiro público desperdiçado em espaços luxuosos para a gente fina de Fortaleza. E aí está também uma resposta aos que tinham medo de um arrastão no reveillon. Menos mal, ou assim parece.

[Ainda não esqueci as mazelas que comentei antes... voltarei a elas.]

Farolando a humanidade

Li algo extravagante sob todos os pontos-de-vista. Segue um trecho dos mais insólitos:

Aqueles que no rastro das “Luzes” imaginavam o fim do papado como instância relevante para a vida da sociedade humana - sobretudo no Ocidente -, depois da Revolução Francesa, da Revolução Industrial e dos avanços monumentais da ciência e certamente ficariam perplexos se vissem, hoje, o Pontífice Romano ocupar o mais alto ranking da autoridade moral, no planeta.

Mesmo exibindo uma carranca medonha, o papa ainda é pop. O artigo na íntegra pode ser lido aqui.

Em terra de podridão, mais ou menos sujo é rei


Sem alarde, Renan Calheiros renunciou à Presidência do Senado pra poder voltar em alguns anos, apesar dos negócios escusos com uma cervejaria, dos laranjas que mal escondem sua propriedade sobre rádios, do lobista que paga a pensão por ele... ou, quem sabe, por causa disso tudo mesmo.

Sem alarde, o potiguar Garibaldi Alves o substituiu. Garibaldi foi o único candidato e venceu por 68 votos a favor sobre duas abstenções e oito votos contrários: quase um consenso, como foi um consenso que o PMDB devia tradicionalmente indicar o próximo presidente da Casa, mesmo não sendo a regra.

Enquanto foi governador do Rio Grande do Norte, Garibaldi não precisou de campanhas colossais para se eleger e reeleger, nem para ascender ao Senado em 2002. Mas, nas eleições daquele ano em particular, Garibaldi precisou, isso sim, de uma ajudinha dos cofres públicos. Quatro promotores da Defesa do Patrimônio Público de Natal (RN) estão investigando a denúncia do desvio de R$ 210 mil pertencentes à Secretaria de Defesa Social para pagar despesas da campanha conjunta de Garibaldi e seu vice no Governo Estadual, Fernando Freire. Garibaldi concorreu e se elegeu senador, mas Freire não chegou a governador. Independente do resultado, R$ 210 mil reais saíram da Secretaria, passaram por uma empresa de informática chamada Microtec e desaguaram nas contas de 17 pessoas ligadas à Polis Propaganda e Publicidade, agência responsável pela campanha dos dois pemedebistas.

O que fez Garibaldi virar presidente do Senado foi o fato de, entre os nomes mais fortes de seu partido, o dele ser o menos sujo. Não havia nenhum (no mínimo, aparentemente) limpo - pelo menos, não que não fosse desafeto do governo Lula. O potiguar diz querer "participar da árdua missão de devolver ao Senado toda a credibilidade frente ao país". Em outras palavras, limpar a Casa. Como ele vai fazer isso, se não tem nem as próprias mãos limpas, é outra história, que não cabe contar nos solenes discursos de posse.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Uns pensamentos sobre responsabilidade, choque e a famigerada Miséria em Preto&Branco

Certa vez, um camaradinha veio me falar sobre a idéia de outro camaradinha fazer trabalhos fotográficos e audiovisuais sobre os mendigos que zanzam pelas redondezas do campus do Benfica. Fiz logo cara azeda.

Lembrando de umas conversas que participei e umas coisas que já tinha lido, minha expressão fechada foi mais pelo fato de achar que um trabalho desses requer maturidade. Eu não me atreveria a fazê-lo, sendo sincero. Teria de ter muito cuidado pra não cair nos moldes de miséria em preto e branco, tão conhecidos na universidade.

Essa estética que me amedronta é simples. Do preto e branco, muitas vezes nem sequer há conversa com a pessoa, ou pior, o objeto vítima das lentes. Põe-se um amiguinho ali ao lado, finge-se fotografá-lo e, desviada a câmera um pouco para o lado onde o enquadramento for mais eficaz, é disparado o obturador. A imagem é transportada para o computador, retira-se sua matiz, aumenta contraste daqui, diminui luminosidade dali, consegue-se o tom dramático da imagem e pronto: uma nova foto é adicionada no álbum do orkut.

Miséria em Preto&Branco é aqui apenas um mero termo ilustrativo. Meu medo não é que essa ausência de cor se torne piegas demais nesse tipo de trabalho. Meu temor é ver a “juventude esclarecida” de câmera em punho, retratando essas cenas somente para dizer que é socialmente engajada, não dando nenhuma continuidade crítica a um trabalho desses. E, indo mais além, seria assustador saber de, por exemplo, fotos de crianças famintas expostas nas paredes de um museu com pessoas fumando charutos e bebendo champanhe numa vernissage, e nenhuma reflexão ou mudança de postura sobre o assunto depois disso.

A Susan Sontag escreve, no livro “Diante da dor dos outros”, que fotografias são meios de tornar real, ou ainda mais, assuntos que pessoas socialmente privilegiadas talvez preferissem ignorar. Concordo com ela, porém, pra trabalhos que relacionam mídia e miséria, os autores precisam mais do que ter como objetivo chocar o leitor da imagem. Nesse mesmo livro, também é citado o trabalho Krieg dem Kriege! (Guerra contra guerra!), do fotógrafo Ernst Friedrich. O livro, uma terapia de choque imagética, traz mais de 180 fotos de arquivos médicos de guerra. Inicia-se com soldadinhos de brinquedo e canhões de brinquedo. Termina com veículos destroçados, soldados agonizantes, crianças armênias esqueléticas e corpos dilacerados. O protesto de Ernst até rendeu muitas cópias do livro. Era uma tentativa de acabar com a guerra, publicado em 1924.

Talvez o choque não funcione tão bem quanto acreditem os seus defensores. É uma ferramenta dúbia, que beira entre a erudição do pensamento e a representação grosseira. Fora dos domínios daquele que o usa, o ato pode afastar aqueles que já estão distantes do tema, e ainda pode gerar repugnância por parte daqueles que estão no contexto.

A busca por uma "responsabilidade imagética" na elaboração de um conceito-chave para a construção de um projeto desses seria ideal. Isso traria certo domínio sobre o mecanismo do Choque, se é necessário usá-lo e como usá-lo. Acredito que maturidade seja ideal nesse ponto, além de um longo tempo refletindo sobre o projeto. Daí eu não me atrever a fotografar esse assunto, somente quando eu achar que já tenho maturidade suficiente pra isso. E pra isso, haja tempo vivido e prática.

Fortaleza de mazelas (1 e meio)

Estava preparando texto pra esse blogue há uma semana (estive também ocupada com outras atividades: bolsista não tem férias)... Mas outros acontecimentos me puxaram a atenção. Neste sábado, cheguei em casa feliz e distraída e me assustei com as notícias do dia.

Arrastão e morte no Centro de Fortaleza
Às vésperas do dia de Natal, moradores de Fortaleza viveram um dia infernal na área do Centro, neste sábado, com incêndio pela manhã, e à tarde, arrastão, pânico e morte.

Vejam aí as palavras: inferno, incêndio, pânico, morte. A coisa não foi nada simples.

Confesso que me deu vontade de ter visto de perto. De estar lá, não pra ser atropelada pela correria ou pra sentir o desespero com mais emoção. Queria ter visto e sentido como foi esse acontecimento - e não digo como se achasse que foi tudo uma atração. Queria ter visto de perto pra entender direito... (Suspiro e me respondo que isso é "espírito de jornalista" - espero ter algum, ainda não tenho certeza).

Deram destaque à fotogaleria do portal, junto da manchete. De 14 fotos, 4 estampando rostos desesperados, de crianças também, e as restantes enfocando a ação policial. Perguntei-me: será que essas pessoas autorizaram essas fotos?

Por pior que tenha sido, esse fato está mexendo em muita coisa na cidade. As pessoas estão discutindo políticas de segurança pública, finalmente pensando a sério sobre a Ronda do Quarteirão... Que antes era a grande proposta salvadora da segurança pública no estado, e agora é falada como um belo fracasso em fardas caras e veículos superpoderosos. Até agora, a maior decepção do povo com o governador Cid Gomes.

Marcos Cavalcante, repórter do núcleo de Cotidiano do jornal O Povo, escreveu uma nota de quem viu a ação não a trabalho, mas como cidadão, sem no entanto se deixar atordoar como a maioria. Recomendo. Ele diz: "Talvez as histórias sejam boato. Talvez o boato é que haja segurança no Centro."

Natal amarelo...


Peço desculpas: vou comentar aqui um filme já bastante discutido, mas que somente ontem tive a oportunidade de conhecer. Não se trata de uma resenha jornalística. É mais um comentário despretensioso. Acheguem-se.

O filme é Amarelo Manga (2002), do pernambucano Claudio Assis. Antes dele, tinha assistido, no sábado, Dogville, de Lars Von Trier. Não preciso dizer que os dois filmes são da pesada. Ambos mexeram comigo, portanto. O primeiro bem menos que o segundo e este bem mais que tantos outros até então vistos.

Entretanto, devo confessar: esperava mais de Amarelo Manga. Muito mais. Muita zoada em torno da obra, muitos prêmios acumulados, muita badalação – pra um filme que é só mediano. Diziam dele: tem cenas fortes, é escatológico. Preparei o estômago, portanto. Ao longo de uma hora e quarenta minutos, só fiquei enjoado ao ver uma vaca sendo abatida. Sangue à vontade sempre embrulha o estômago da gente. Além disso, nada. Uma buceta não me assusta – não mais. Catadores de lixo, vendedores ambulantes, putas, cafetões e cafetinas, traficantes – embora muitos sequer figurem no filme –, idem. A mesma coisa com a mulher gorda esfregando o aparelho de aerosol na vagina. Assis, pra mim, amarelou. Ou foi a crítica que sucumbiu ao bafafá de Amarelo Manga? Quem criou a áurea: o filme ou a crítica especializada?

Escrevo sem ter lido muitas delas, o que é bom. De qualquer forma, reitero: tinha escutado falar muita coisa do filme, que era isso, que era aquilo. Não é. Tem personagens mal-acabados – o que dizer do padre (não lembro o nome) e do pirado Isaac, interpretado por Jonas Bloch? Que o último beira o ridículo? Sua tara por sangue ou cadáveres é infantil, risonha. Quanto ao padre, é óbvio que ele está perdido no filme. Não se encontra pro santo homem uma função definida além da que o obriga a sair por ruas apertadas de um bairro pobre pensando alto. Sua descrença ou mesmo sua crença subversiva é igualmente cômica. Sendo justo com o personagem, diria que ele é subutilizado. Isaac, ao contrário, é apenas caricato.

Parênteses: Amarelo Manga chega a ser didático, sim, e ser didático quase sempre é um primeiro passo para que tudo termine mal. Me refiro à cena em que o próprio Assis sussurra para Kika (Dira Paes): “O pudor é a forma mais inteligente de perversão”. Ou seja, o desbotado Não se reprima! é a mensagem.

Falo de dois personagens centrais na trama de Amarelo Manga. Mas há outras coisas que, no filme, ficam inteiramente soltas, esfiapadas. A cena em que Kika (crente fervorosa), a esposa traída do açougueiro Wellington Kanibal (Chico Dias) – Claudio gosta dos tipos “imundos” –, enfia um cabo de escova de pentear cabelos no cu de Isaac (necrófilo) é de uma gratuitade sem tamanho. Qual o sentido do gesto? O que há por trás dele? Afirmar que todos somos, embora queiramos esconder, um bando de pervertidos? Ou simplesmente dizer que enfiar um cabo de escova no cu de alguém é algo normal? Nos dois casos, a cena fica devendo. No primeiro por se aproximar do clichê. Afinal, existem pencas de filmes que buscaram a mesma coisa e melhor. No segundo caso, a coisa piora: o clichê é mais inaceitável ainda.

Algumas coisas – detalhes – nos indicam as intenções de Claudio Assis em Amarelo Manga. Talvez ele pretendesse mostrar o imundo da realidade. Não estou falando somente de miséria, mas de algo que se alimenta dela e vai além, algo que floresce na lama, que apodrece sob as nossas vistas, que sucumbe às vontades primitivas de comer e foder (O ser humano é estômago e sexo, sentencia o filme). Talvez essa proposta possa ser expandida para um grande leque de filmes nacionais na atualidade. Talvez essa proposta, nobre em teoria, esteja cansando, sim, ou já tenha vindo ao mundo cansada mesmo. Ou natimorta, ninguém sabe.

Há outra coisa sobre a qual fiquei me perguntando: quem é o protagonista de Amarelo Manga? Não há. Digo, essa imundície de que falei ocupa quase todas as atenções de Assis e se converte, se quisermos, em protagonista da história. O diretor parece querer provar a tese: é na sarjeta, nos becos das favelas, nos casebres periféricos, nos bares pestilentos que ocupam as esquinas dos bairros pobres que nossas taras assumem a sua forma definitiva. Assis comanda os seus personagens com mão de ferro. Ele os envia ao campo de batalha com um dever explícito: comportem-se feito animais.

Que venha Baixio das Bestas!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Fortaleza Mazelada

Foi tudo muito rápido. Aliás: está sendo tudo muito rápido, tanto quanto este post.

Incêndio pela manhã e arrastão à tarde.

Pesquisei o incêndio por conta das chamadas no telejornal do meio dia. Aqui e aqui.
Pesquisei sobre o arrastão escutando os comentários de uma senhorinha dentro do ônibus de volta pra casa. Aqui, aqui, aqui e aqui.


Fortaleza mazelada? Sempre foi, mas agora, quando o soco vem subitamente, é difícil se esquivar.
Tô até agora atônito com tudo isso num só dia. Curiosamente, perguntei-me se há motivo pra tanta pompa nessa tal festa de ano novo.

Depois, quando recuperar o fôlego, volto com textos.

Respostinha, camaradas!

Lá vai a réplica ao texto Música pra que ouvidos?, escrito pela colaboradora Débora Medeiros. Vamos em frente.


Começo pela provocação que me toca mais. Não mudaremos as redações de jornais. E não faremos isso pelo mesmo motivo que um caixa do McDonald’s não subverteria a estrutura capitalista sobre a qual se assenta a empresa pra qual trabalha ou um cobrador de ônibus não conseguiria, por meio de sua luta diária, diminuir os preços das passagens ou aumentar o seu ordenado. No caso dos cobradores, sejamos justos: é mais provável que ele obtenha resultados que nós, jornalistas e aspirantes ao posto.

Bom, é nisso que acredito. Sinceramente, não investiria uma migalha das minhas energias na intenção de tentar transformar os jornais diários. Escreveria, sim, e tentaria não “vender a alma”. Entre a decência e o dinheiro, fico com a primeira. Mas não sou bobo de acreditar que essa lógica muda segundo as vontades de cada um de nós. E como não acredito muito que essas vontades possam entrar em perfeita sintonia e perseguir um nobre objetivo, vou cuidar do meu jardim. Mas sempre disposto a tomar Bastilha de assalto, sim. A gente se mete em besteiras mesmo sabendo que não darão em nada.

“Gosto musical é questão de convivência, de acesso.” Eu poderia ter escrito isso, Débora. Não há contradição entre o que eu digo e o que você escreve, ao menos não nesse trecho específico. Isso explica por que não aceito essa história de boa música etc. A tua boa música é mesmo boa? Se é tão boa assim, por que meu vizinho não gosta dela? Porque não teve as mesmas escolhas e, principalmente, acesso a uma série de bens que você, correto? Nem sempre. Se tudo depende de tanta coisa, prefiro não diagnosticar como ruim o forró nem como doente quem se dedica a ouvir esse gênero. No máximo, direi: não tiveram as mesmas opções que eu ou, se tiveram, não deram tanta importância pra elas, o que, no final das contas, não quer dizer muita coisa.

Mas num ponto você tem razão: a música, de fato, não respeita fronteiras entre classes. Assino embaixo. O samba, por exemplo. Ontem era coisa de favelado, das gentes do morro, hoje anima as festinhas da classe média. Virou moda ir no sambinha. Acho essa discussão até mais interessante: de que maneira as classes mais endinheiradas se apropriam das formas simbólicas oriundas do populacho, como essa música – pra seguir no exemplo – passa a ser consumida (por ambas as classes), quais os elementos que importam nesse processo todo, qual o papel dos meios de comunicação etc.

Adianto: não sou contra o sambinha das gentes cheirosas e bem-arrumadas na vida. Não gosto nem desgosto. Quero dizer: mais desgosto que gosto, mas nada tão grave. A gente é livre pra tudo.

Joelma versus Billie Holiday


Escrevo essas linhas regulado pela cadência melancólica do violão de Baden Powell. E me vem a pergunta: o que é boa música?

Música se faz para a alma. É a maquiagem do espírito. Sobre a superfície plana e sem graça chamada comumente de “vida”, ela, a música, vem preencher a tela da nossa vã mediocridade com suas formas abstratas, mesmo que a faça com cores negras (aqui, sem medo de soar incorreto politicamente. Aos que se sentirem atingidos, advirto-lhes que meus advogados já estão a postos e garanto-lhes que são fartamente remunerados).

Falou-se aí em Djavan, Aviões do Forró e David Duarte. Eu, por mim, enterraria todos eles vivos, para que sentissem, lentamente, as carnes serem corroídas pelos vermes. Mas como sou um sujeito deveras tolerante, apenas os troco por Baden Powell e sigo minha vida, pagando meus impostos ao Governo, tal qual um carneirinho dirigindo-se ao matadouro.

Mas os tempos exigem que sejamos condescendentes à música ruim e caso algum de vocês, ingênuos leitores, amontoem coragem suficiente para gritar à praça pública em alto e bom tom: “Jesus, Djavan é uma merda!”, logo serão vistos como um bando de reacionários imbecis, assim como é visto por alguns setores da sociedade acadêmica cearense o nosso companheiro Bruno Direita Jagger. Aliás, diga-se de passagem, o jovem citado tem gosto musical assaz duvidoso, vez que 1) considera Rolling Stones melhor que Bob Dylan – melhor não faríamos se comparássemos a Joelma do Calypso à Billie Holiday; 2) parece ter forte apego à música (?) produzida nos anos 80 - a pior década no âmbito musical do século XX.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Vai, Fernando Hugo, bota o povo no camarote!

Em Fortaleza, ano novo também é tempo de briga. Leia matéria de 20 de dezembro do Diário do Nordeste. Comento depois.

Deputados devolvem os convites especiais

Depois das muitas críticas à prefeita Luizianne Lins (PT) na Assembléia Legislativa pelos gastos com a festa do réveillon passado, e o que está sendo programado, deputados tucanos resolveram radicalizar. Em sinal de protesto contra os mais de R$ 270 mil que serão gastos pela Prefeitura de Fortaleza em área especial para abrigar os dois mil convidados da prefeita, os parlamentares do PSDB afirmaram que não vão participar do evento. Alguns avisaram que pretendem fazer a devolução do convite.
É o que pretende fazer o líder do PSDB na Casa, deputado João Jaime. Ele afirmou que não tem a intenção de participar da festividade promovida com recursos públicos. “O que está sendo feito é um circo fechado, em que só quem recebeu convite pode ir ao evento. Essa festa luxuosa não condiz com a crise do IJF, a situação da saúde e com a falta de remédios nos postos de saúde da Prefeitura”, protestou.

Devolução

A festa, assim como o envio dos convites encaminhados aos parlamentares estaduais, foi o tema do pronunciamento do deputado Fernando Hugo (PSDB). Foram 45 minutos de ataques e críticas à gestão da petista pelos gastos “excessivos” com a promoção da festividade. O tucano fez um apelo para que o Patrimônio Geral da União não permita a construção do espaço especial para os convidados. O Ministério Público Federal, através do procurador Alessander Sales, já havia feito essa recomendação à Instituição, mas o deputado pediu para ele reforçar a fiscalização.
Além de reprovar os gastos com a promoção da festa e a construção do espaço reservado para os convidados, o parlamentar reclamou dos convites impressos. Na opinião dele, houve desperdício de recursos públicos na confecção do material gráfico, com material de qualidade superior. Ele afirmou que vai doar os convites.
Outro que também avisou a intenção de doar os convites foi o deputado Moésio Loiola (PSDB). Segundo ele, os contemplados serão pessoas que moram nas ruas da Capital. O tucano prometeu comprar roupa adequada para que eles possam participar da festa.

*
*****

Meu jeito cínico de ser encara o plano dos deputados tucanos como teatrinho. Mas...

Não seria absolutamente fantástico se eles cumprissem a promessa? Imagine a corte em festa, os fogos explodindo, a música troando, tudo lindo e maravilhoso. A alegria é contagiante, enfim, até que surge um povo estranho na entrada do recinto. Os sobrenomes são desconhecidos das altas rodas. A segurança discretamente sugere às figuras que se dirijam ao setor correto. E aí, as palavras mágicas: "Mas eu tenho convite. Ganhei do Fernando Hugo. Tá aqui, ó".

Seria o acontecimento político mais fascinante da nossa cidade em anos.

Música pra que ouvidos?

Há algum tempo, uma entrevista que fiz com o cantor David Duarte pro nosso querido Jornal Jabá suscitou um debate interessante entre mim e o camarada Henrique. Os textos em cujas janelas de comentários ocorreu nossa conversa são este e este. Do caráter supostamente pedante ou não das afirmações do entrevistado, acabamos navegando para assuntos muito mais amplos e relevantes. Pra ficar mais organizadinho, me propus escrever um texto aqui como continuação do assunto.

Comecemos pelo mais subjetivo: o que é boa música? De onde vêm as auras de vulgaridade ou de transcendência que alguns estilos assumem? Por que fazer MPB, mesmo que com letras pueris (os fãs de Vanessa da Mata que me desculpem, mas quer título de música mais tosco que "Ai, ai, ai"?), dá credibilidade e tocar forró elétrico transforma qualquer pessoa em um desmiolado querendo lucrar com as massas?

O que leva alguém a gostar de um tipo de música e abominar outro? Discordo que existam gêneros "com apelo popular", músicas que falam mais diretamente a uma classe social que a outra. Já encontrei muito motorista de ônibus ouvindo Djavan, enquanto mauricinhos cruzam todos os dias a avenida onde moro irradiando Aviões do Forró de suas Hillux. Acho que gosto musical é, isso sim, uma questão de convivência, de acesso. R$ 10 compram um rádinho de pilha, com um espectro de emissoras que contemplam estilos variados. O indivíduo escolhe o que vai sintonizar, mas essa escolha tem um monte de fatores agregados: o que as pessoas na casa dele escutam, o que tá sendo mais alardeado na emissora de TV favorita dele, que mp3 a namorada transferiu pra ele no MSN, o que ele considera um bom divertimento na sexta à noite.

Quase todo fim de semana, ouço falar de um show de rock/reaggae/MPB de gente daqui. Isso graças ao meu trabalho, porque a divulgação dessas apresentações é quase só baseada no boca-a-boca, nada que se aproxime dos cartazes que cobrem a cidade de domingo a domingo, anunciando as atrações das casas de forró de maneira quase que viral.

"Sim," disse meu companheiro de blog, "o espaço de divulgação é mísero, não temos como chegar às massas etc. Estamos todos carecas de saber disso. As coisas são assim há um bom tempo, é a lógica da indústria priorizar um setor que vai sempre render mais. A indústria cultural também funciona assim. O que fazer é que são elas... Agora, não vou colocar a culpa na indústria, porque, nesse modelo que a gente tá vivendo, a coisa só funciona desse jeito. "

Pra mim, o fato de as coisas serem assim não significa que devam ser ou que vão ser pra sempre. O que faz um setor render mais que outro é o próprio investimento da indústria. Se não existissem os empresários investindo em bandas de forró, acho improvável que fizessem tanto sucesso. A questão é: quem financia os outros estilos que nem sempre têm ou querem ter valor comercial? A política de editais taí como um bom (e raro) exemplo de financiamento por mérito. É como disse uma funcionária da Secult, numa matéria fizemos pra cadeira de Impresso I: os editais são como um concurso público pra artistas. O ideal é que houvesse outras maneiras que atingissem mais gente e independessem do Estado.

Henrique disse também: "Em tempo: não sei se o lance é tentar cavar espaço nas rádios comerciais, tentar pluralizar essa grade totalmente dominada pela música do Mal. Seguindo essa linha, seria o mesmo que acreditar que posso mudar o jornalismo na redação de um grande jornal."

E por que você não pode? :) Claro que os meios alternativos têm sua importância, mas por que seria tão impossível pluralizar os meios de comunicação de massa? Não digo que deveria haver uma lei que obrigasse as rádios a tocar isso ou aquilo no lugar do que elas tocam hoje - seria, no mínimo, cabuloso (vocês sabiam que acontece na Venezuela? As rádios de lá são obrigadas a dedicar um espaço na grade para a música "típica" dos povos indígenas, li na National Geographic). Mas as emissoras de rádio e TV funcionam a base de concessões públicas. No lugar de nos conformarmos com o fato de as concessões serem moedas de troca pra político, por que não exigir um plano que priorizasse as propostas mais plurais na hora de permitir a criação de uma nova emissora? As próprias rádios comunitárias, muitas vezes, apresentam uma linha editorial bem diferente disso que tá aí. Aqui mesmo em Fortaleza tem uma, de cujo nome não me lembro agora (algo a ver com Cultura FM...), que dedica espaço pra praticamente todo tipo de música na programação.

Quem diria que uma discussão sobre o mérito de um artista iria desembocar em democratização dos meios de comunicação, hem? Vamos ver onde isso vai parar - se parar, o que espero que não aconteça!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um comentário

O texto propriamente dito vem depois, ainda hoje ou amanhã. Mas vem, sim. Por ora, limito-me a concordar com a leitora. Ela pede: falem do feijão, falem das filas que se formam à entrada dos bancos, falem dos gastos exagerados em fins de ano, falem dos surtos do bispo que luta contra a transposição do rio. Faremos isso. Nossos indômitos comentaristas estão com os teclados engatilhados desde o início da semana. Os disparos serão dados muito em breve. Esperemos. Mas não muito, por favor, que leitor cansa, não tem saco tão grande quanto o do Papai Noel. Portanto, mãos à obra, e ligeiro.

Antes, um aviso. Em nossa mira, o desarrazoado da Prefeitura de Fortaleza. Dinheiro escorrendo pelo ralo. À falta de outras coisas com que se possa gastar a verba pública, torra-se a grana num réveillon caro e, pior, privilegiam-se os convivas de alta patente. Como forma de compensar o gasto despropositado, três festinhas nos bairros mais pobrinhos da cidade: Conjunto Ceará, Messejana e Barra do Ceará. Na passagem, cinco minutinhos de traque e rasga-latas. Coisa bem diferente se dará no espaço destinado aos convidados da prefeitura.

Enquanto isso, a prefeita comemora a quarta colocação numa pesquisa realizada pelo Datafolha. A intenção era descobrir quem eram os governantes de capitais brasileiras mais bem colocados. Luizianne surge em quarto lugar, com média de 5,2. No site da prefeitura, a gestão Fortaleza Bela comemora. E se esquece de informar: embora tenha ficado em quarto lugar, metade da população da cidade desaprova a sua gestão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Serenando ao meio-dia

Acho que a gente precisa de um contraponto, alguém que empunhe as velhas bandeiras da esquerda no blogue. Não apenas isso, claro. Tem também de nos convencer de que essas bandeiras ainda estão em boas condições de uso e que, se hasteadas, não vão se esfarelar à primeira brisa. É tão difícil encontrar gente disposta a mudar o mundo e que saiba escrever. Que não enrole, que diga as coisas com clareza, que tenha estilo. É pedir muito?

Algum candidato? Receberemos currículos, sim. Vamos abrir edital, é mais democrático. Sei lá, conheço poucos marxistas declarados. Na verdade, só conheço um. Acho que ele não toparia, é uma pessoa muito ocupada. Tem o mestrado e outras coisas. E não é toda vida que assume o marxismo dele. Só quando estamos sozinhos, calados. De repente, ele suspira e diz: “Esse meu marxismo...” Fico sem entender.

Enfim, é o que há. Sem utopias aparentes. As utopias são realmente importantes? Dizem que sim. Eu não sei responder, mas arrisco: acho que não sinto falta de uma. Isso pode soar melancólico, e é. Sou melancólico. Minha geração tem essa cara de quem comeu e não gostou. Quer dizer, é pior que isso. A cara é de quem comeu e não sentiu o gosto.

A coisa está nesse pé. Estamos num beco sem saída? Acho que não. Talvez sequer estejamos num beco, mas numa sala, na cozinha ou mesmo numa rua com muitas saídas, infinitas. Ocorre que só conseguimos enxergar a parede sem portas. Ou nem isso. Quem sabe a calçada ou a base de um poste fincado a dois metros de onde estamos sentados, conversando.

Queria ouvir de alguém: isso é só um sonho ruim. De qualquer forma, vale perguntar: ruim por quê? Esse sentimento não combina muito comigo. Nem com você, imagino. Não combina com ninguém. Não perdi nada, não ganhei absolutamente nada com a queda do muro, por exemplo, e o fim da história. Ou com a revolução cubana ou a queda das torres. Ou a reeleição de Lula e o fim da CPMF. Ou com a derrota de Chávez e a vitória de Kaká. Nada. Tudo acontece, mas nada se move. Correção: nada me comove.

Agora, fiquei curioso: utopia serve pra quê? A melancolia vem disso, vem de longe. As gerações mais velhas tentaram mudar as coisas e quebraram a cara. Tentaram implantar um modelo de sociedade mais justo e quebraram a cara. Tentaram subverter a ordem, mas, invariavelmente, quebravam a cara. Donde concluo: ou as coisas devem ser assim mesmo e tentar mudar é besteira, ou todos estamos predispostos a quebrar... Sim, a cara.

Daí a pergunta: por que utopias?

Respondo: pra cegar. Utopias nos cegam. Melhor olhar pra realidade sem floreios, ver o que ela é e o que pode ser, mas sem muitas frescuras, sem messianismo, certo? Acho que é isso. O recado é esse. Se esforcem, construam algo. Sejam bons meninos e boas meninas. E cuidem bem das plantinhas do jardim de casa.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O intelectual transcendental

Gostaria muito de ser um cara com idéias aclamadas pela juventude brasileira. Gostaria que minha Palavra fosse sempre a última e meu discurso, superior. Decerto, agradar-me-ia a concepção de ser um Tudo me lançando ao Nada; de ser o Conhecimento iluminando a Escuridão. Certamente, deleitar-me-ia com a possibilidade de minha alma voar acima dos débeis pensamentos das massas para que, com minhas mãos, eu as modelasse da forma que me fosse mais conveniente. Quisera eu ter a incumbência de ditar cartilhas aos jovens, de calar aqueles mais inteligentes; por certo gostaria de ter a capacidade de tornar uma reflexão diferente em ilegítima; de silenciar o explícito e de guiar o destino do povo.

Ah...Como eu gostaria de ser um intelectual de esquerda no Brasil.

Um velho safado...

"A diferença entre democracia e ditadura é que, numa, primeiro a gente vota e depois cumpre ordens, ao passo que na outra não é preciso perder tempo com eleições"
Bukowski

Salvando almas, recuperando prestígios


O achincalhe tem nome: Rafael Salvador. Mais aqui.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Conservatives & Democratas


Essa eu tinha de colocar aqui.

Lendo alguns dos endereços costumeiros, passei no blogue do Leonardo, cartunista foda lá do Rio de Janeiro. No entanto, um post que não tinha nenhum cartoon me chamou atenção. No melhor estilo copiar&colar, aí vai ele:

Se pra limpar a ficha suja na praça basta trocar de nome e pra se dizer moderno é só trocar papai por filhote na foto da mesma identidade... Se não há incoerência em defender a tese de que o mandato parlamentar pertence ao partido e não ao candidato eleito, quando este mesmo partido nunca teve sequer um voto... Não há nada de errado em Democratas brasileiros chuparem Conservadores ingleses. Quem quiser pode conferir maiores semelhanças here e aqui. Como eles mesmo dizem "a força das novas idéias"; podem ter esquecido de uma crase aí but, who cares?

Vacilada do responsável pela identidade visual do partido?
Mas é claro! Se a descoberta do meu xará de sobrenome ficar famosa, na próxima vez o sacaninha responsável inventa de copiar alguma logo de algum partido pertencente aos países-frios-e-pequenos-que-ninguém-nunca-lembra.

No mais, fica de lembrete ao Por que não te calas?!: eleições chegando, camaradas!

Teorizando II

"Quando era muito jovem comecei a provocar os outros garotos com a bola. Meu pai, porém, me disse: 'jogar futebol foi um dom que Deus te deu. Não faça isso. Se você for um bom garoto, treinar bastante e fazer tudo certo na vida, terá sucesso'. Sigo isso e tenho prazer em pertencer à família Fifa, cujo pai é Joseph Blatter", discursa.

A declaração é de Pelé, mas bem que poderia ser de Al Capone. A conspiração tem presidente (Pelé) e, se quiserem transformá-la em filme, um nome: A família FIFA.

No mais, leiam esta nota. Quem escreveu isso não freqüentou a escola.

Comédias da universidade pública

Todo mundo sabe que a universidade pública brasileira é um imenso museu de esquerdismo festivo. Se você não sabe, ou acha a idéia absurda, é porque o negócio já está tão arraigado que reconhecê-lo é tarefa impossível. Reconhecer algo significa conhecer o seu oposto.

Poucas coisas são tão divertidas pra mim quanto assistir de camarote ao espetáculo da galerinha acadêmica em ação tendo a consciência de que tudo não passa de pura canastrice intelectual. Eu até compreendo o automatismo ingênuo dos mais jovens; eles só querem parecer bacanas, é normal da idade. Hilário é ver cinqüentões desempenhando o papel de idiotas vaidosos com tanto gosto.

Semana passada, uns professores universitários pró-Cuba (desculpe a redundância) promoveram mais uma sessão de apologia ao comunismo. Tudo bem. Senhores de meia-idade vivenciando suas utopias adolescentes residuais inspiram uma certa compaixão. Mas não consigo deixar de ficar abismado com a contradição ambulante que essas figuras personificam. Vejamos:

Depois de quase ejacular exaltando a “poesia” da vida cubana, o sujeito muda o tom ao comentar a já clássica matéria da Veja. Coito interrompido. A angústia em seu rosto é comovente. Tiraram o pirulito da boca do menino. A ameaça saiu naquele tom sério de quem solta pedacinhos da palavra divina:

“Olha, o que a edição porca daquela revista fez com o Che, uma pessoa que é um ícone... Merecia mais do que ser queimada, como fizeram naquele protesto em São Paulo. Sei não, viu? Merecia outras medidas”.

Ah, as outras medidas! Instantes depois de quase chorar falando de liberdade, o imbecil manda os jornalistas da Veja pro calabouço. Trata-se da liberdade peculiar dos fanáticos: a liberdade de só falar o que agrada. Tente mostrar a um pilantra desses a imensa contradição e ele responderá usando dialética marxista, essa mãe que salva todos aqueles flagrados pregando uma coisa e praticando outra.

Note que fui ainda fui gentil ao supor que, para o cidadão acima, é a cadeia o destino de quem comete o crime de escrever matérias contra-revolucionárias. Certamente a solução “poética” é o paredão mesmo. Acho que ele hesitou em dizê-lo com todas as letras por algum pudor pequeno-burguês...

E no que ele difere de extremistas religiosos ao dar como atestado do crime o desrespeito a uma figura “icônica”? É isso aí! Vamos jogar esses hereges na fogueira! Che é grande!

Mas o poeta não brilhou sozinho. Ele perdeu o prêmio “Incoerência de Ouro” para uma senhora cujo nome não citarei, até porque a identidade não importa: considero-a um resumo da embromação geral. Jeitão descolado de quem endurece sem perder a ternura, terminou o discurso com a revelação bombástica: “Não há felicidade sob o capitalismo”. A platéia vibrou. Enquanto não ria nem batia palmas, meditei. Quanto ganha um professor universitário cheio de mestrados, doutorados e outros ados? Desconheço o valor exato, mas sei que é dinheiro pra caralho. É, digamos, um pouquinho mais do que ganha qualquer cubano – fora do Partido Comunista, claro. Então saí do estado meditativo e fui tomado pela mais completa felicidade. Descobri um jeito de salvar aquela pobre alma do inferno capitalista. Vou sugerir à doutora que transfira seus rendimentos para a minha conta. Melhor pra todo mundo: ela alcança o nirvana, eu fico estribado.

***

Mais comédias de universidade em breve.

Teorizando


Quero falar de futebol, meu esporte predileto. E de minha decepção com a escolha de Kaká como o melhor do mundo. Não sei que critérios presidem a escolha do melhor jogador nem quem são os responsáveis por ela. De uma coisa, porém, estou certo: esses caras não entendem muita coisa de futebol.

As opções eram conhecidas de todos: além de Bambi, constavam da lista tríplice o português C. Ronaldo e o argentino Messi, companheiro de Ronaldinho no Barcelona.

Pronto, não digo mais nada. Melhor, digo, sim: foi marmelada. As arrancadas de Kaká não são suficientes. Os chutes de meia-distância, muito menos. Os cabelos meticulosamente partidos ao meio, da mesma forma. Posso ser convencido de que Messi não tem cacife pra ostentar o título de melhor do mundo. Sim, é compreensível, sobretudo quando se trata de um argentino...

Mas, e C. Ronaldo?! Não posso aceitar. Perguntado em quem votaria na escolha do melhor de 2007, o próprio Kaká respondeu: em C. Ronaldo, o craque português. E, acredito, não foi apenas diplomacia.

Conclusão: por trás da escolha do brasileiro, existe uma conspiração das brabas. Podem fuçar.

Se correr o bicho pega, se ficar...

Li e não me contive: vou compartilhar com a companheirada.

"O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O comunismo é examente o contrário".

Quem? Stanislaw Ponte Preta.

domingo, 16 de dezembro de 2007

P.G e P.A: o cálculo que não explica nada

A Equipe aumenta em progressão geométrica; o prestígio, em aritmética.

Ela, contudo, não liga pra essas coisas. Seja bem-vinda, Janelinhas.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Duas palavras de Alberto Dines



LEITURAS DE VEJA

Denúncia chinfrim não dá ibope

Por Alberto Dines em 11/12/2007
Veja assumiu abertamente a manipulação rasteira, ranheta, rastaqüera. Mas Veja está cansada, já não acredita no que publica. As matérias são encomendadas, enfiadas nos buracos e estamos conversados.

A reportagem sobre a estréia da TV Brasil (edição 2038, págs.146-148) é melancólica: foi colocada na rubrica "Ideologia" porque pretendia denunciar a transformação da antiga TVE num soviet petista e acabou mostrando como a exaltação ideológica no lobby da mídia comercial está liquidando os mais comezinhos princípios da apuração jornalística.

O repórter saiu com a incumbência de entrevistar produtores e editores dos principais programas da rede educativa, certo de que obteria revelações fantásticas sobre malversação de recursos, aparelhamento, controle político etc. Ligou para alguns e só ouviu queixas contra a dupla de diretoras que justamente acabara de ser demitida pela nova direção da TV Brasil. Resultado: as demitidas foram obrigadas a assumir publicamente que foram demitidas porque não se contentaram com os cargos que lhes foram oferecidos pela nova direção.

Nenhuma palavra

A solução foi transformar uma trepidante matéria de denúncia numa aborrecida resenha sobre a burocrática estréia da rede pública na semana anterior. Ao invés de apontar os descalabros dos últimos cinco anos na TVE que, em última análise, foram os responsáveis pelo meio ponto do ibope na estréia da sua sucessora, a matéria deriva para as platitudes habituais dos filósofos privatistas: "O Brasil precisa de uma rede pública"; "o Brasil já não tem uma TV pública?"

E quando se imagina que o entediado editor da Veja vai finalmente acordar, ele saca a informação de que o país já tem 177 canais que consomem 800 milhões de reais por ano. Nem se dá ao trabalho de oferecer detalhes aos angustiados contribuintes, seus leitores.

Nenhuma palavra sobre a Rede Cultura, da Fundação Padre Anchieta e bancada pelo estado de São Paulo, a mais bem-sucedida experiência de TV pública. Compreensível o esquecimento: lembrar que pode haver uma TV pública qualificada, capaz de funcionar como alternativa à pobreza das redes comerciais, derruba a atual histeria privatista. E nenhuma palavra sobre a desastrosa TV digital que, afinal, está enchendo de anúncios as páginas dos jornais e revistas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Coisas novas, coisas velhas


Embora não tenha muito tempo pra escrever – neste final de quinta-feira, entenda-se –, quero indicar algo: isto aqui. Trata-se de leitura para o final de semana. E para a semana também. Há quatro anos, li os textos das prisões. Neles, um que falava sobre questões da língua portuguesa que, muito infelizmente, não consegui encontrar. Deixei um comentário no site pedindo informações sobre o seu paradeiro. Estou aguardando a resposta. De qualquer forma, vale conferir.

Ia esquecendo: finalmente, todos estreamos. Parabéns, a intenção era despejarmos, de segunda a sexta-feira, cinco textos – um para cada arguto colaborador. Em pouco mais de uma semana, temos quinze textos publicados. A Equipe tá com sangue no olho, disposta mesmo. Parece ter bebido água de chocalho.

Destaque para a crônica do camarada Bruno Pontes, que me fez pensar enormemente na minha avó, já tão velhinha. Cara, não sabia que você era dessas coisas. Fiquei impressionado com a sua versatilidade. Continue visitando a casa do seu avô e escrevendo textos sobre a velhice. Ou sobre qualquer outra coisa, desde que escreva.

Era isso. Era aquilo.

Em tempo: estamos à espera de Paulo Francis.

Mais uma coisa: Yuri, sinto mesmo pela história do ônibus. No seu texto, pude ver claramente a frustração das pessoas que esperavam, na segunda-feira, um ônibus com três portas e tiveram de se espremer na tão conhecida "lata de sardinha". Melhor tirar essas aspas: lata de sardinha e pronto.

Só mais uma coisa: temos de escolher nosso primeiro entrevistado. Digo, aquele ou aquela – tô, aos poucos, aprendendo – que será entrevistado por nossa Equipe. Pode ser político? Pode. Pode ser padre? Pode. Pode ser professor? Claro que pode. Pode ser estudante? Obviamente. Mas é melhor que não seja nenhuma dessas figuras; quero dizer, que seja alguém que nunca tenha sido entrevistado e que, preferencialmente, sequer saiba o que é uma entrevista.

Quem sugeriu isso mesmo? Acho que foi o Rodolfo. Alguém me disse que tinha sido ele. Mas isso não importa agora.

Era isso definitivamente.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A minha é maior que a sua


Não é que não goste de árvores de Natal. Gosto. Quero dizer, nem tanto. Não tenho uma em casa, mas minha mãe mantém uma pequena mas simpática bem na entrada da sala e, todas as noites, há pelo menos duas semanas, acende as suas luzinhas coloridas e torna os nossos dias mais... natalinos.

Na verdade, vou confessar: tenho simpatia por árvores de até um metro de altura. A partir daí, a ojeriza toma conta de mim. Anos atrás, elaborei um plano, real e meticuloso, que consistia na derrubada da árvore que havia sido fincada no estacionamento de um dos shoppings mais movimentados da cidade. Reuni comparsas dispostos a fazer justiça, mas, por alguns motivos que não convém expor aqui e agora, às vésperas do Natal, prefiro não comentar. No final das contas, prestes a executarmos o plano, demos pra trás. Contudo, nos fizemos uma promessa: do ano que vem não passaria. Passou, não uma, mas três ou quatro vezes.

De qualquer forma, acho curiosa a disputa entre árvores no final do ano. Ontem mesmo – ou foi hoje? – assisti a uma reportagem sobre isso. Nela viam-se árvores de tamanhos variados, mas sempre acima dos quarenta metros, espalhadas por cidades como Natal, Curitiba, Fortaleza e, creio, São Paulo. Natal tem uma árvore bem maior que a nossa. A de Curitiba é cerca de dez metros menor. Nossa árvore está, ao que parece, entre as maiores do Brasil. Me refiro à que fica na Praça Portugal e foi decorada com redes de dormir. Ela é realmente bonita. Ao redor, os poodles da classe média não podem fazer cocô. Os meninos e meninas que veneram a cultura nipônica devem ter gostado, a praça ganhou um colorido que não tinha antes. Serve de personagem às tramas dos seus animes. Ou como mais um ingrediente à costumeira e saudável depressão pasteurizada da “tribo dos cabelinhos” (emos).

Existe, porém, a “hipótese freudiana”: como revólveres, vassouras e alguns aparelhos de academia, árvores de Natal são objetos fálicos. A lubricidade consumista que marca os festejos de final de ano contribui enormemente para o adensamento de certo clima sob o qual cotejar árvores torna-se algo, digamos, excitante. Como friccionar os lábios contra outros lábios – o mesmo vale para partes do corpo menos à vista –, é algo gostoso de fazer. Os shoppings adoram exibir as suas nas calçadas e mostrá-las aos transeuntes, que salivam ante a monumental linearidade do mastro ao qual se prendem fitas coloridas, redes e luzinhas que piscam e piscam sem parar, num ritmo que se torna mais frenético e orgástico a cada ano. Tudo isso coroado pela figura mais pedófila de que se tem notícia: o Papai Noel.

Ou talvez apenas gostemos do colorido sem graça das árvores. Afinal, crianças, jovens, adultos e velhos gostam delas. Heterossexuais e homossexuais também. Donas de casa e empresárias da mesma forma. Eu também gosto de árvores de Natal. Menos das pops que enfeitam as praças do que das pequenas que animam salinhas apertadas das casas nos subúrbios de Fortaleza.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Respostazinha desconfortável

(o que se segue foi baseado numa série de acontecimentos presenciados pelos usuários da linha 317 - Cidade Nova / Parangaba... Depois de ter visto, e usado, o ônibus grande, bem grande, de três portas, peguei inspiração suficiente pra transcrever o episódio...)


Resumidamente, a Fortaleza era movida da seguinte maneira: uns milhares de trabalhadorezinhos de rosto comum saiam da periferia toda manhã a caminho do trabalho nos pequenos e ricos bairros dos homens de trabalho, voltando à noite para suas casas na periferia da região. Sempre foi assim, sisteminha feito para não misturar as funções dos dois grupos – simplificados aos bocados – evitando confundir a cabeça de muita gente.

Resumidamente outra vez, o tempo passava, o povo trepava, a população crescia e bairros surgiam. E mais e mais bairros nasciam, junto da criançada, e alguém devia tomar alguma providência para transportar essa mão-de-obra toda para os pequenos e ricos bairros dos homens de trabalho. Pensaram nos ônibus e adotaram – isso não se sabe bem quem foi, não importa.

Oficializaram um novo bairro na Fortaleza há um tempo. E, seguindo a lógica escrota desenvolvida nos últimos parágrafos, arranjaram uns dois ônibus meia-boca pra zanzar pelo novo bairro, possibilitando os trabalhadorezinhos de cara comum saírem dali e chegarem nos ricos bairros dos homens de trabalho.

Até aí, tudo bem.

Agora, é bom saber que os ônibus eram desses que lembram uma barra de sabão automotiva: pequenotes azuis que correm feito o diabo, diferentemente dos grandes ônibus de três portas que circulam pelos outros bairros. Enfiando quarenta e cinco ou mais (e olha que sempre cabe mais, seja transpassado pela porta ou pendurado na janela) trabalhadorezinhos dentro dele nos horários de ida e de volta dos ricos bairros, e injetando óleo conservante, lembram latas azuis de sardinha.

Até aí, tudo bem – para os homens de trabalho, tudo bem.

No entanto, numa bela noite de sexta-feira, os trabalhadorezinhos tiveram uma surpresa quando se arrumavam para a disputa de espaços para pé dentro do coletivo.

Dobrou na esquina um ônibus azul, que corria feito o diabo, mas grande, bem grande, e com três portas.

Muitos não acreditaram.

- Eita que é mentira! – berrou o velhote fedendo à cachaça.

- O ônibus completou dezoito anos e se espichou todim! – disse a garota de quase quinze anos pra sua amiga.

- Finalmente o pessoal do governo escutou nossos pedidos! – bradou o camarada de quarenta e lá vai tanto.

Talvez, pela primeira vez na história daquela linha, fez-se fila para entrar no coletivo. O clima de alegria era intenso e contagiante entre os passageiros confortáveis nos bancos ou desfrutando de espaços vagos no corredor para afastar mais as pernas e deixar o vento correr. A boa sensação se espalhou e logo todos conversavam entre si, comentando a novidade. Aconteceu até de aumentar o número de cumprimentos dos passageiros ao motorista em cada parada solicitada.

Foi uma noite mágica para os trabalhadorezinhos, encantadora mesmo. E assim foi no sábado e no domingo.

Porém, a novidade se desfez na manhã de segunda-feira. O corredor vazio foi substituído pela não-passagem repleta de gente torta e amarrotada pelas ferragens, e os bancos confortáveis levavam pessoas comprimidas de feições não mais alegres.

- Esse encardido voltou a rodar!!

Pra quem perguntasse, o motorista explicava que aquele ônibus grande, de três portas, só tinha sido usado porque os ônibus daquela linha, os pequenos apertados, passaram o final de semana quebrados.

Indo além de modo transversal


Enveredando-me pelo Nada (é como chamo carinhosamente a Internet), encontrei uma entrevista com o escritor e jornalista gaúcho Fausto Wolff, de 67 anos, a qual reproduzo aqui um trecho de minha conveniência. Volto depois.

Fernando Toledo: Dr. Fausto Wolff, bem... é... o que você acha do jornalismo feito hoje pelos nossos colegas mais jovens?

Fausto Wolff: Eu acho que é um jornalismo de merda. Acho que é um jornalismo de merda porque ele não leva o povo em consideração. Porque ele faz um jornalismo imparcial. Eu sou um jornalista parcial. Entre o bancário e o banqueiro eu vou escrever sempre a favor do bancário.

Voltei

Viram aí? Na condição de jovem estudante universitário, a resposta do Lobo não me poderia ser mais incômoda. Nada mais insosso que a produção jornalística atual, principalmente a impressa. A prática do bom jornalismo está em baixa, e o jornalismo de opinião, então, esse agoniza. Parece-me que em algum momento histórico ainda não especificado, jornalismo e cultura se desuniram numa briga feia, daquelas de acordar os vizinhos e cães num raio de 20 quilômetros.

O fato é: quatro anos alisando bancos de um curso de jornalismo parece-me ser um contra-senso, vez que, a menos para mim, me impossibilitou de ter mais tempo livre para obter uma coisa que não se ensina: cultura. Por certo me deparei com mestres iluminadores, claro. Entretanto, eu realmente gostaria de ter tido mais tempo e dinheiro para realizar minhas leituras básicas, coisas que não fiz por estar deveras ocupado, usufruindo minhas parcas economias em bebidas alcoólicas e investindo meu escasso tempo em perseguir certa menina. Faz-se necessário que eu obtenha o mínimo de tempo possível para assimilar qualquer coisa, longe da pressão de trabalhinhos acadêmicos que só nos fazem encher o saco, pelo menos a maioria deles.

Essa garotada que está entrando hoje nas escolas de jornalismo são puro gás: multimídias, simpáticos, expansivos e o escambau, entretanto, para qualquer um deles, falta lhes tempo para compenetrar-se em qualquer idéia mais duradoura que o seja. Tudo é rápido, tudo é prático e tempo refletido é tempo desperdiçado. Nesse ínterim, tome lhes jornalismo de achismo e arroubos de falsos polemistas – que, na mais absoluta falta do que fazer, criam efêmeras polêmicas que já nascem mortas, não conseguindo fermentar um verdadeiro debate digno de tal nome.

Para além disso, o jornalismo poético agoniza. O que diabos chamo de jornalismo poético? Aquele que cultiva não só o tema a ser abordado, mas também a preocupação com o estilo do texto; com a estética da coisa. Pior: não se há mais outras formas de pensar idéias na chamada “grande mídia” impressa. O editorial da Folha de São Paulo copia o do Estadão, que ecoa no Diário do Nordeste, que vaza para O Povo, num grande ciclo pasteurizado e asséptico.

Um curso de jornalismo, não sei, talvez devesse se aproximar de suas irmãs mais velhas, logo mais sábias, como a Filosofia, a Literatura e as Ciências Políticas, por exemplo. Jornalismo, por incrível que pareça, deveria rimar com cultura e não com vulgaridade. De vulgar, camaradas, já basta a vida, da qual nutro profundo desrespeito.

Em tempo: sou corporativista, por que não? Engenheiros o são, médicos também, pedreiros igualmente, por que não posso ser também? Sou favorável ao “diproma” e pretendo, o quanto antes, filiar-me ao sindicato da categoria. Alguns se chocarão com essa revelação, pois, no começo do curso, eu zombava dos defensores do canudo, com o seguinte argumento. “Francis não o teve, por que precisaríamos dele?” Mas, vocês vêem, assim como o presidente Lula, tenho o direito de ser uma “metamorfose ambulante” e virar a casaca.

Em tempo’: já que o citei, meu próximo comentário neste blogue será sobre o Francis (ou não). Prendam a respiração, pois falarei um pouco sobre o homem. Até lá.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Os "menos cotados" se reúnem

Realizou-se, nesta segunda-feira, 10, às 14 horas, à esquerda da Frondosa, o primeiro encontro de avaliação do blogue Por que não te calas?!. Dele participaram quatro dos cinco colaboradores. A reunião encerrou-se por volta das 15 horas. Nada de muito relevante foi decidido. Exceto que o contrato dos membros que não cumprirem a missão de postar um texto por semana será prontamente rescindido, sem ônus para o contratante. À exceção das já habitualmente conhecidas, não houve muitas caras-feias diante da medida que visa, sobretudo, sistematizar, preservando sempre os princípios transversais do regime democrático, nossa produção diária de conteúdo.

Na ocasião, a Equipe também rechaçou veementemente a concepção de um cartaz racista que um de nossos camaradas, inadvertidamente, portava. No cartaz, inúmeros lápis coloridos enfatizavam a diversidade de qualquer coisa que já nem lembro, apenas que o lápis de cor preta fora lamentavelmente banido. A ausência da cor oriunda do continente mãe (África, aos menos ilustrados) de nossa civilização indignou toda a Equipe. Por muito pouco, o camarada subversivo, cuja identidade será aqui preservada, não foi linchado. O episódio teve, desse modo, um caráter emblemático: não estamos aqui para fuxico.

O recado foi, portanto, dado: estamos vigilantes, sim. Onde quer que haja um de nossos ilustres membros – são muitos e argutos –, os direitos das minorias estarão sempre resguardados de possíveis distorções.

Em tempo: não se sabe ao certo quando será a próxima reunião.

Eu devia era estar estudando - parte II

Tem toda razão, Débora: ressentimento embota os sentidos. É um mal, uma coisa que devemos evitar e ponto final.

Dito isso, vamos aos fatos. Pra mim as coisas são assim: tenho alguma dificuldade de separar o que você é do que você diz. E foi o que fiz ali, não separei, na maior parte do tempo, o escrotinho que a estrela é do que ele diz. Esse cara é pedante e metido, disso não tenho dúvida. E ninguém me disse isso – eu vi. Melhor, ele me mostrou o quanto é divino. Ou pensa que é.

Não obstante – essa foi especialmente pra ala formalista que lê este blogue –, também acho a reflexão interessante. Por mais que tenha tratado o dito-cujo de modo jocoso, ele diz umas coisas legais. Por exemplo: que a maioria das pessoas tem preguiça de pensar e que o forró é quase uma doença. Concordo, tem mais é que tratar dessa gente que vaia as bandinhas descoladas e pede forró, ela deve sofrer de algum mal, ter alguma disfunção, sei lá.

No mais, Débora, não pense que a crítica foi ao seu texto. Foi claramente ao principezinho. Agora, só uma coisa: acho que tu ficou muito presa ao debate em torno do forró; dessa coisa da música independente que não consegue vencer certos obstáculos e chegar ao grande público, sim, mas bem mais ao Grande Mal que representa o forró eletrônico. Não sei, mas acho isso um pouco batido, tenho a impressão de que há uns dez anos se lamenta a mesma coisa. E o principal: desconfio muito dessa história segundo a qual o forró é um problema à divulgação da “boa música” de David Duarte e “outros menos cotados”. Se fosse tão boa mesmo, se as pessoas entendessem e se, antes de qualquer coisa, estivesse sintonizada com a realidade do populacho, como o funk, o forró, o hip hop e outras manifestações estão, o principezinho não teria tanta dificuldade de se apresentar num palco no interior do Estado.

A arte já serviu muitas vezes pra propagar certas ideologias e estilos de vida, por que seria impossível que isso estivesse acontecendo agora?

Ninguém disse que era impossível. Aliás, estendo a reflexão ao modus vivendi que a “boa música” de David Duarte encerra e não apenas ao som doentio do forró eletrônico. Se vamos problematizar, façamos isso com todo o resto também, inclusive com quem levanta a questão e se sente prejudicado porque mais da metade da população do Ceará adora forró e não MPB ou qualquer outra coisa.

Jogo de espelhos

Dizem que uma das coisas mais inteligentes que qualquer estudante de idiomas pode fazer, se quiser sair do básico (aprender a iniciar uma conversa, fazer compras e bancar o desorientado em outra língua), é ler. Lendo, ele ou ela entra em contato com palavras novas em seus contextos mais recorrentes, se vira com a lógica pra compreender expressões idiomáticas, se familiariza com a cultura em que estão inseridos os vocábulos estrangeiros.

Pra lidar com situações variadas, vale ler tudo, mas os textos jornalísticos em particular talvez sejam os mais recomendados, graças ao seu compromisso com a fluidez e a fluência. A pessoa corre menos riscos de soar como um cidadão vitoriano em pleno século XXI lendo jornais e revistas em inglês que mergulhando em um romance de Dickens, por exemplo. Embora uma leitura não exclua a outra.

Andei pensando nisso por causa de dificuldades pessoais pra desenrolar certas línguas (como se já não bastasse a língua presa em português...). No entanto, mal me fiz a promessa de férias de me dedicar à leitura regular de periódicos estrangeiros, veio a dúvida de estudante de Comunicação desconfiada: além do idioma, o que vou absorver dos países de origem dos órgãos de imprensa que eu escolher? O contato com os jornais e revistas nacionais, contraposto à vivência cotidiana e ao acesso a fontes minoritárias, me ensinou a quase nunca acreditar plenamente na forma como certos aspectos do Brasil são estampados nas páginas dos veículos de comunicação. Se o jornalismo brasileiro professa sua utilidade pública mas não está livre de interesses bem privados, por que o que é feito no exterior estaria?

Quão diferentes seriam os Japões vistos por um estudante de japonês da UECE e por um morador de Osaka, ambos leitores do Asahi Shinbum? E as Franças lidas no Le Monde por uma dondoca chinesa e um trabalhador de Paris? Spiegel é a palavra alemã para "espelho", mas será que o reflexo é o mesmo, quando olhado de dois pontos diferentes?

Muitas vezes, a cobertura feita por um jornal de fora parece desprezar contextos nacionais distintos e pasteurizar tudo para seu público de origem. Mas, assim como cada veículo de imprensa brasileiro mostra um Brasil diferente, é de se esperar que o mesmo aconteça com os veículos nativos dos outros países. A diferença é que nem sempre se sabe aonde ir em busca de outra(s) versão(ões). Além de aprimorar o domínio do idioma estrangeiro, é bom aguçar a criticidade diante do que é lido. A credulidade cega não me parece boa, qualquer que seja a língua.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Every Little Thing She Does Is Magic


Acabo de ver pela TV o The Police tocando ao vivo no Rio de Janeiro. A banda é uma merda e a apresentação foi pior ainda, não merece nem duas linhas de comentários. Aliás, leio na net que teve nego pagando até 500 pilas para ver o show. Obviamente, isso soa a mim como um absurdo total. Entretanto, valeu a pena ver o Sting, aos 56 anos de idade, em ótima forma física. Um verdadeiro pão. Se eu conseguisse chegar aos 29 da forma como ele está chegando à terceira idade, meus camaradas, juro para vocês que não pediria mais nada a Deus...Taí, eu pagaria 500 paus para comer o Sting, mas jamais para ouvi-lo cantar. No máximo, o deixaria assobiar depois do coito e só.

Eu devia era estar estudando

Fico contente quando leio uma entrevista como a que David Duarte, o príncipe da MPB cearense, concedeu ao Jabá. O cara é foda mesmo, saca das coisas, tem trabalhado mais com publicidade que com música em si e ainda assim saca das coisas, diagnostica problemas, sugere soluções, é um cara cem por cento, disso não resta dúvida. Mas é um tremendo pedante e amostrado. Sofre de um mal que acomete onze em cada dez artistas da terra: estrelismo. Eu canto. Devo, portanto, ser reconhecido por qualquer pessoa em qualquer esquina da cidade. Você é um imbecil se não me conhecer. Tudo bem, sou um imbecil.

Pra ele, as pessoas que não gostam da sua música, que é boa por natureza, imagino, têm preguiça de pensar. Por outro lado, gostar de forró é quase uma doença, um câncer. Ele diz isto: “As pessoas têm preguiça de pensar”. Bonner, o do jornal, concorda: ambos acreditam que somos todos um bando de retardados, réplicas bem-acabadas de Homer Simpson que não conseguem somar dois com dois e por isso ligamos o rádio pra ouvir mensagens pornográficas.

David vai mais longe: diz que forró é um caso de saúde pública. Precisa ser tratado. Até que faz algum sentido. Porque ele tá falando especificamente de alcoolismo, uma coisa de que parece ser grande entendedor. Por isso fico calado, o cara sabe o que é melhor pra todos, sobe ao palco e fica espantado com a apatia do público de uma cidade do interior, que quer forró, sim, e não um som maneiro e cheio de erudição.

Bom, não posso me considerar um preguiçoso: gosto das músicas do principezinho. Mais das canções que dele mesmo, que é foda demais, saca muito das coisas, manja de quase tudo e ainda por cima faz trinta jingles por dia. Ele é bom mesmo, e eu, apenas um estudantezinho de jornalismo que não sabe distinguir abacaxi de azeitona.

E ainda por cima sou um ressentido. Sou, sim, e quem não é?

Jabá against the machine


Direto ao ponto: Jornal Jabá está aqui. Leiam, sim. Vale a pena. Duas reportagens de dois de nossos ilustres colaboradores, Débora e Yuri, ainda inéditos por aqui. Por enquanto. É que a última semana de aula é desumana, mandou avisar o camarada Yuri.

Bom, acho que era isso. Mais uma coisa. Li isto aqui e quis compartilhar. Lá vai:

Assim como um advogado não tem um amor à verdade que se compare ao seu apego aos interesses de seu cliente, um repórter não tem respeito algum pela nuance. O sentido de uma situação não é o que ele explora, na verdade ele freqüentemente evita a atmosfera, já que é difícil capturá-la num texto escrito às pressas. Suas tentativas juvenis de procurar o espírito de um evento foram decapitadas anos atrás na mesa do editor de texto; desde então ele foi adestrado a buscar fatos, ainda que invariavelmente os compreenda mal. É sutilmente incentivado, quando trabalha numa matéria, a depender de tudo, menos da sua escrita. É por isso que poucos repórteres escrevem bem.

É um trecho do prefácio de O super-homem vai ao supermercado, de Norman Mailer. Diga-se de passagem, Mailer é, incidentalmente, muito camarada com os jornalistas nesse parágrafo específico. Vocês precisam ler o resto antes de seguir na profissão. Li e desisti: não quero mais ser jornalista. Vou procurar outra coisa pra ganhar a vida. O quê? Ainda sei jogar futebol. Posso tentar. Afinal, é sempre bom ser essa “metamorfose ambulante”, certo, presidente?!

Bom final de sábado a todos.

Sem essa de coletivo


Neste blog, podemos atear fogo uns aos outros. Tranqüilamente.

Primeiro ao Rodolfo. “Escrevo para um blog coletivo e isso é ruim, sem dúvida.”

A pergunta do dia é: por que, caro aprendiz de jornalista? Não entendi absolutamente nada do que tu escreveu. Aliás, não entendo muito bem a avalanche de críticas dirigidas aos blogueiros. Blogs são o que são: blogs! Ou seja, ferramentas. Desgostá-los, pura e simplesmente, é como dizer, sem mais nem menos, que não se gosta de talheres ou de vassouras ou mesmo de latas vazias. É sem sentido. Há um mar de gente escrevendo na internet? Sim, há. Muita besteira sendo escrita e publicada? Obviamente. Isso é ruim? Ninguém sabe. Pode até ser bom. Pra mim, não é nem uma coisa nem outra.

Curiosamente, disse a mesma coisa em relação à lista interna do curso de comunicação social da UFC: é apenas uma lista. Ora bem, ora mal usada. Os blogs são assim: podem ser manejados por gente canhestra ou não.

Não vou comentar o texto do Bruno nem as posições políticas do camarada. Muito menos a reação destrambelhada dos entrevistados no programa da Rádio Universitária da UFC. De qualquer forma, gostaria de ter participado do dito programa. Teria sido instrutivo, muito instrutivo vê-los engasgar-se diante de uma pergunta tão simples: por que tantos cubanos fogem de Cuba? Pior: ter a cara de pau de formular, às pressas, uma resposta que, a rigor, não deveria convencer o comunista mais roxo. Digo, o mais vermelho.

Aliás, agora fiquei curioso: existem números a esse respeito? Quantos cubanos tentam, anualmente, fugir da Wonderful Island de Fidel? E com que propósito, velado ou não?

Por fim, por que pretender deixar o país de origem é crime político? Não entendo essas coisas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

“Bom, até aqui, tá tudo bem..."

O diabo leve este blog, assim como todos os outros também. Zombar de blog e blogueiros já não tem mais a mesma graça dos tempos de outrora. Há dez anos talvez fizesse ainda algum sentido falar impropérios a respeito dessa raça maldita, mas, hoje, basta encostar duas ou três pessoas num ponto de ônibus qualquer e elas logo começam a xingar a categoria. É como falar mal do PT, quase ninguém mais tem tesão para fazer a coisa. Eu mesmo, quando me pedem opinião sobre alguma trapalhada do PT, nem termos mais tenho para escarnecer o partido. Digo apenas. "Pois é, é o PT né...".


Mas eis-me aqui, escrevendo para um blog. E pior, meus camaradas: um blog coletivo. Posso ser mais universitário consciente e doidão que isso? Não, né? Procuro e não encontro motivo algum para escrever neste blog, a não ser, claro, o fato de que fui gentilmente convidado pelo camarada Henrique Araújo para fazer parte da equipe, que conta ainda com a participação de Débora Medeiros, Yuri e do intragável Bruno Direita Jagger. Este último, senhoras e senhores, não passa de um jovem petulante e imoral, que pensa que o caminho para o conhecimento é aberto a golpes de arrogância.


Nutro certas esperanças de que este blog não passe de uma caricatura bizarra do que jamais poderia ter sido um dia. Entretanto, pegam-me em contradição. "Haha, viraste blogueiro". Sim, é verdade, porém, não sei se vocês sabem, eu tenho o estranho hábito de fazer coisas das quais depois venho a sentir forte repulsa. E as faço de modo deliberado. Escrevo essas linhas e mal acabo de rascunha-las, vem-me uma aversão a mim mesmo, de modo que a cada letra escrita maior é o meu desagrado interno. Alguém sensato cortaria o mal pela raiz, simplesmente parando de escrevê-las. Como sou um organismo estranho, continuo caminhando e cantando e seguindo a canção...


Todavia, como conforto e consolação, tenho a presença dos companheiros deste blog, presença essa que muito me agrada, e uma sensação de que por mais que eu esteja tomando um caminho errado, nada poderá ser tão trágico assim. É como aquela história do sujeito que pulou do vigésimo quarto andar de um prédio e refletiu otimista, durante a queda, enquanto passava do quarto para o terceiro andar. “Bom, até aqui, tá tudo bem...”. Escrevo para um blog coletivo e isso é ruim, sem dúvida. Será trágico? Não sei, mas posso garantir-lhes que, até aqui, o pulso ainda pulsa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

No início, era o sarro

Texto de apresentação é tudo igual. Há coisas mais importantes a dizer do que ficar por aqui à toa, perorando. O leitor moderno não tem tempo, bom ir direto ao ponto. Do contrário, dormimos todos. E dormir sem ter gozado antes é uma lástima.

Por que não te calas?! é o nome da coisa. Coisa não é modo de dizer, é como pensamos que deva ser: uma coisa sem definição, mas séria. Tão séria quanto seus participantes permitirem e seus leitores e leitoras suportarem. Assim é a coisa, coisamente.

Política, literatura, música, sexo, alcoolismo, esporte e o que mais vier – tudo cabe em Por que não te calas?!.

Que acham? Peitam a coisa? Nós peitamos. Mas não esperem nada além de um texto por semana multiplicado pelo número das gentes que se envolveram nisso, ou seja, cinco. Ao todo, portanto, cinco textos semanais, um para cada dia útil. Sábado e domingo, folga para a equipe.

Que tipo de texto esperar de nossos colaboradores? O tipo que suscita a pergunta: por que não te calas?! Dito de outra forma: o tipo que incomoda, embora incomodar esteja, por ora, fora dos propósitos ou prioridades de nossa geração – bem mais preocupada com a acomodação das coisas.

Esse parágrafo tá careta. Detestei ele, mas vai ficar assim. A gente nunca consegue lançar mão de uma frase de efeito sem colocar todo mundo no mesmo saco de gatos!

Começamos.

Abraços...

domingo, 2 de dezembro de 2007

Por quê?!

POR QUE NÃO TE CALAS?!