Tem toda razão, Débora: ressentimento embota os sentidos. É um mal, uma coisa que devemos evitar e ponto final.
Dito isso, vamos aos fatos. Pra mim as coisas são assim: tenho alguma dificuldade de separar o que você é do que você diz. E foi o que fiz ali, não separei, na maior parte do tempo, o escrotinho que a estrela é do que ele diz. Esse cara é pedante e metido, disso não tenho dúvida. E ninguém me disse isso – eu vi. Melhor, ele me mostrou o quanto é divino. Ou pensa que é.
Não obstante – essa foi especialmente pra ala formalista que lê este blogue –, também acho a reflexão interessante. Por mais que tenha tratado o dito-cujo de modo jocoso, ele diz umas coisas legais. Por exemplo: que a maioria das pessoas tem preguiça de pensar e que o forró é quase uma doença. Concordo, tem mais é que tratar dessa gente que vaia as bandinhas descoladas e pede forró, ela deve sofrer de algum mal, ter alguma disfunção, sei lá.
No mais, Débora, não pense que a crítica foi ao seu texto. Foi claramente ao principezinho. Agora, só uma coisa: acho que tu ficou muito presa ao debate em torno do forró; dessa coisa da música independente que não consegue vencer certos obstáculos e chegar ao grande público, sim, mas bem mais ao Grande Mal que representa o forró eletrônico. Não sei, mas acho isso um pouco batido, tenho a impressão de que há uns dez anos se lamenta a mesma coisa. E o principal: desconfio muito dessa história segundo a qual o forró é um problema à divulgação da “boa música” de David Duarte e “outros menos cotados”. Se fosse tão boa mesmo, se as pessoas entendessem e se, antes de qualquer coisa, estivesse sintonizada com a realidade do populacho, como o funk, o forró, o hip hop e outras manifestações estão, o principezinho não teria tanta dificuldade de se apresentar num palco no interior do Estado.
A arte já serviu muitas vezes pra propagar certas ideologias e estilos de vida, por que seria impossível que isso estivesse acontecendo agora?
Ninguém disse que era impossível. Aliás, estendo a reflexão ao modus vivendi que a “boa música” de David Duarte encerra e não apenas ao som doentio do forró eletrônico. Se vamos problematizar, façamos isso com todo o resto também, inclusive com quem levanta a questão e se sente prejudicado porque mais da metade da população do Ceará adora forró e não MPB ou qualquer outra coisa.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
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5 comentários:
Não achei mesmo que a crítica fosse ao texto, Henrique :) Não tava defendendo meu texto - nem defendendo nada, aliás. Não vou me ater ao que o David Duarte é ou deixa de ser, porque acho que isso seria uma discussão infrutífera. Todo mundo vai com a cara de uns e não suporta outros.
Dito isso, a intenção era mesmo ficar presa ao debate em torno do forró. Tinha mais um monte de coisas que queria perguntar ao David, mas não integravam minha pauta, então deixei pra conversa informal que rolou depois. Até porque tem uma entrevista mais ampla com ele em uma revista Entrevista, queria focar num ponto específico na minha.
Quanto ao fato de o forró dificultar a vida de outros artistas, façamos uma comparação literária: quem tem mais facilidade de publicar e vive só de literatura, o autor de best sellers com uma megaeditora a tiracolo ou o cara que ganhou um edital na Funcet, que só paga a publicação numa gráfica, sem qualquer esquema de distribuição?
Acho que não é tão simples quanto dizer "se fosse tão bom, o público reconhecia e botava o cara nos braços". Muita coisa depende de divulgalção, de espaço. Quantos bons artistas cearenses tocam regularmente nas rádios comerciais? Enquanto eles não fazem nome sozinhos, enquanto não viram lucro garantido, não é do interesse de ninguém botar na grade de programação. Enquanto isso, as bandas de forró contam com megaempresários que muitas vezes controlam rádios, gravadoras e até distribuem o que vai pra banquinha do camelô. Convenhamos que a coisa está longe de ser uma meritocracia. Claro que todos têm direito a espaço e o forró não deve ser suprimido em favor de outro gênero mais "nobre" - até porque não existe isso. Mas a conquista do espaço não é igual pra todos.
Sim, sim...
Agora, o ponto da discórdia foi o seguinte: você nunca vai me ouvir dizer que quem lê best sellers é um doente mental ou alguém que tem preguiça de pensar. No máximo, posso relacionar isso a uma baixa escolaridade ou a outros motivos, alguns citados por você. É muita presunção dizer isso, tratar essa coisa com tanto preconceito. Foi o que vi nas respostas do cara: puro preconceito.
Enfim, acredito mesmo que certo tipo de música não tem apelo popular, não fala às pessoas de uma certa classe. O forró faz isso, mas não apenas ele. O funk e o rap também falam às pessoas, tratam dos seus problemas diretos numa linguagem simples. Fico me perguntando: por que as pessoas não escutam Caetano e Chico Buarque? Por que nunca ouviram falar neles? Por que não têm acesso? Por que não sabem que eles é que fazem boa música? Não sei...
Sim, o espaço de divulgação é mísero, não temos como chegar às massas etc. Estamos todos carecas de saber disso. As coisas são assim há um bom tempo, é a lógica da indústria priorizar um setor que vai sempre render mais. A indústria cultural também funciona assim. O que fazer é que são elas... Agora, não vou colocar a culpa na indústria, porque, nesse modelo que a gente tá vivendo, a coisa só funciona desse jeito. Não posso querer vender picolé prum público que quer comer chegadinho. E, pensando bem, se esse público só quer comer chegadinho, se só gosta mesmo de chegadinho, a culpa não é minha, mas do governo e das pessoas, que não querem comer outra coisa. Porque, pro cara que tá querendo ganhar dinheiro, tanto faz vender picolé e chegadinho.
Outro aspecto quase sempre ignorado. Alguém aqui já se perguntou, por exemplo, sobre o montante de empregos que a indústria do forró gera?! Pois é. Tem muita gente que come e se veste graças a isso.
Escrevi muito. Vou indo, mas acho essa discussão muito massa de ser feita. Até pra colocar algumas coisas que penso em xeque e dar botinadas noutras das quais discordo.
Em tempo: não sei se o lance é tentar cavar espaço nas rádios comerciais, tentar pluralizar essa grade totalmente dominada pela música do Mal. Seguindo essa linha, seria o mesmo que acreditar que posso mudar o jornalismo na redação de um grande jornal.
Infeliz ou felizmente, não acredito mais nisso, mas na construção de outros espaços. Não vou ficar disputando espaço nas FMs se tenho a internet e posso divulgar o meu trabalho, se, depois, posso gravar o meu disco independente e fazê-lo circular, ainda que precariamente. A gente pode fazer muita coisa sem a grande indústria por trás ou o governo.
Com atraso porque a vida tá movimentada, eu discordo de vários pontos levantados aqui, Henrique, mas vou deixar a resposta pro meu póximo texto. A discussão não pode morrer!
que bom que discorda!
espero a resposta...
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