domingo, 23 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 15


Nem todos os homens fizeram as coisas que ele fez.

Woody Guthrie nasceu em 14 de julho de 1912, no estado de Oklahoma, Estados Unidos. Ainda criança e incentivado pelo pai, um rústico fazendeiro de Okemah, aprendeu tocar ao violão músicas do Velho-Oeste norte-americano; velhas canções folk de cowboys e índios. O pai de Woody, Charles Edward Guthrie, também era homem metido com política (tratava-se de um democrata) e não foram poucas as vezes em que levou o pequeno Woody consigo para passeatas ou mesmo para acompanhar os seus próprios discursos políticos. A mãe de Woody, Nora Belle Sherman, também lhe cantava baladas folk para dormir, sendo ela própria uma entusiasta do gênero musical cantando em sua terra. O garoto Woody, desde o princípio, mostrou-se precoce e um tanto quanto incomum quando comparado aos de sua idade, pois, calado, era capaz de passar horas e horas em um canto, observando aguçadamente o mundo, as pessoas de sua terra, a paisagem que o cercava, e, principalmente, a música tocada e cantada por seus conterrâneos. As canções que ouvia de gente mais velha deixariam forte impressão no espírito do menino.

Durante a infância em Oklahoma, Woody experimentaria a primeira de uma série de enormes tragédias pessoais: a morte acidental da irmã mais velha, Clara, queimada em um terrível acidente com uma lamparina. Essa ocorrência funesta levou a desestruturação da família de Woody, agravada ainda por complicados problemas financeiros. Woody viu tudo isso do alto de seus sete anos de vida.

Em 1920, quando Woody contava então oito anos de idade, petróleo foi descoberto em Okemah, ocasionando um verdadeiro “boom petrolífero” na região. Milhares de trabalhadores foram para a cidade, que, de um dia para o outro, se viu repleta de homens com variados sotaques oriundos todos os cantos do país; jogadores de todas as estirpes e pequenos trapaceiros que buscavam obter vantagens com a situação chegaram aos borbotões, e ali perambularam durante um par de anos. A outrora pacífica e pequena cidade natal de Woody fervilhava agora de gente e isso, mais tarde, teria enorme influência na vida do menino. Entretanto, em poucos anos, os poços de petróleo secaram e Okemah sofreu uma severa reviravolta na economia, deixando a cidade e os habitantes arruinados. O clima eufórico proporcionado pelo ouro negro deixou agora, entre os que residiam no lugar, um enorme sentimento de vazio. Uma depressão econômica, social e psicológica na população.

Woody absorveu tudo isso de forma visceral, mesmo com tão pouca idade. As experiências vividas em Okemah contribuíram significativamente para que ele acentuasse o sentimento de estranheza diante do mundo e das pessoas, fazendo-o adotar uma visão mais abrangente dos outros e de se si próprio. Os viajantes que chegaram e saíram inspiraram o jovem Woody a também querer ver o que existia além dos limites da pequena Okemah. As músicas dos viajantes, as histórias interessantes que eles trouxeram no estojo do violão, os sotaques e costumes diferentes com que expressavam suas vidas e cantavam suas canções, tudo isso implantou no coração e na mente de Woody a necessidade de cair na estrada. E foi o que ele fez.

sábado, 22 de março de 2008

God's my friend


[Acima, Deus estendendo o braço, espécie de varinha de condão]


Era isso? Deus existe?

Nobody knows.

Queria muito saber se tem qualquer coisa me espreitando no quintal de casa. Às vezes acho que sim — que tem e pode ser mesmo ele. Ele tem algo mais útil a fazer? Duvido. Deus é um preguiçoso. E um pervertido. Aposto que é o tipo da coisa que ele adora fazer. Ver-nos sem ser visto. Atrás das moitas, voyeur.

De qualquer forma, não vejo graça nisso. Ao menos não desde os quatorze anos de idade, quando disse a mim mesmo: “Essa gente só pode estar brincando comigo”. Afinal, Deus é mais implausível do que a conquista do título brasileiro por algum dos clubes cearenses. Mais até do que o meu baile de formatura. Ou do que o aniversário de quinze anos de Anita, minha filha — esse é mesmo o nome dela?

Como o universo, Deus é um mistério. Eles vão ou vêm? Se expandem ou encolhem? Ninguém sabe, ninguém viu. E por que cargas d’água as pessoas acreditam nele? Acreditariam da mesma forma se ele não existisse e em seu lugar um saco de farinhas tivesse sido dependurado numa cruz? Acho provável.

Tenho uma camisa que julgo me trazer sorte. Gosto dela. Fiz as duas provas antes de entrar na faculdade trajando essa camisa. Ao final de um mês, fui conferir o resultado do vestibular: havia passado. A camisa era mesmo encantada.

A fé começa desse modo. Primeiro porque não sabemos quase nada sobre como as coisas começaram. Até podemos saber como começaram, mas não sabemos o que tinha antes de tudo ir pelos ares. Ou sabemos? Não sabemos. Por isso disse que a camisa ajudou. Porque preciso acreditar em qualquer coisa. Mas, a pergunta de um milhão: por que precisamos crer no transcendental, no inexplicável, no imponderável? Ou tudo é inexplicável, transcendental, imponderável?

A idéia de Deus está ligada à da arte. Ele só existe porque podemos inventá-lo. Tem o mesmo princípio ativo do teatro, da música, da novela, do romance, do cinema, do conto de fadas. É tão consistente quanto Ulisses e Macunaíma. Existe como existem Indiana Jones e Charles Brown. De fato, é bacana que exista. Não tenho nada contra isso. Apenas acho que as pessoas se levam muito a sério e acabam esquecendo que nada pode nos fazer acreditar, de modo racional, num... Num Deus! E que ele tem tudo pra ser uma... Ficção! Seria tão mais divertido acreditar sabendo que ele simplesmente não repousa acima das nuvens. Que nos vigia dia e noite. Que foi o responsável por tanta coisa.

Parênteses. Uma coisa sempre me impressionou nessa história toda de Deus — quem fora o responsável por sua criação? Porque tava na cara que ele, mesmo tão poderoso e divino, tinha vindo de algum lugar. E, nesse caso, mesmo a noção do nada era assustadora. Porque podia e pode conter muita coisa. Desse modo, toda a minha capacidade de crença religiosa foi ferida de morte.

Adoraria acreditar em Deus. Mesmo. Mas não acredito. Explicar a criação de tudo é uma questão de tempo. O grande nó é: por quê? Por que os bichinhos escolhidos fomos nós e não eles? Por que demoramos tanto tempo nos explodindo antes do final dos tempos?

Que merda, a única coisa que importa é o porquê das coisas.

Mais aqui. Leiam. É sempre divertido imaginar que algumas coisas têm sentido e podem explicar muito do que veremos um dia.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Se me perguntarem, direi: são cachorros


Um manifesto anti-guerra. Eis um bom rótulo para No vale das sombras (In the valley of Elah), de Paul Haggis (Crash - No limite), com Tommy Lee Jones, Susan Sarandon e Charlize Theron. O propósito do filme é mesmo questionar os resultados diretos e indiretos da investida liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque, que completou, no último dia 20 de março, seis anos. E com um saldo aterrador: quase 200 mil iraquianos e cerca de 5 mil norte-americanos mortos. Baseado em fatos reais, o enredo, bastante simples, gira em torno do retorno de um batalhão de soldados à América. Logo na primeira semana em solo pátrio, Mike Deerfiel, filho de Hank (Tommy Lee Jones), ex-policial militar, desaparece, ensejando o início de uma via-crúcis que culmina de forma dramática e nos leva a pensar, mais uma vez, acerca do significado da “guerra pela democracia”.

É difícil dizer qualquer coisa sobre o filme sem revelar alguns dos seus segredos. Mas vou tentar. No vale das sombras é um bom filme, tem ótimas cenas, performances magnéticas e um roteiro bem-amarrado. Tommy Lee Jones foi indicado ao Oscar por sua atuação. De fato, o cara é fabuloso. É fantástico vê-lo percorrer os corredores da burocracia militar e policial à procura de informações sobre o filho. É gostoso vê-lo decepcionar-se com os despojos da guerra. Ele é frio e triste. É duro como convém ao reservista. Mas, aos poucos, essa dureza vai... Vai cedendo... Sim, vai se abrindo, lenta e dolorosa. O processo é mesmo custoso. Até inverter os pólos de suas crenças, virar o mundo de ponta-cabeça, não é exatamente um pulo. Mas, como outros tantos americanos que enviaram os seus meninos pra guerra, Hank finalmente chega lá.


O vale é sombrio

O título original — In the valley of Elah — é, pra variar, infinitamente mais informativo do que o genérico No vale das sombras. Ele remete ao campo de batalha onde se enfrentaram o gigante Golias e o pequeno Davi, personagens bíblicos. Pra história, isso faz toda a diferença. Porque Paul Haggis quer dizer exatamente isto: enviar os jovens soldados norte-americanos para o Iraque equivale ao disparate que foi para Davi ter de peitar Golias. É desigual, é injusto. E as conseqüências disso podem ser desastrosas.

No vale das sombras faz uma leitura psicológica do conflito no Iraque, que, à semelhança de outras guerras, produz monstros. Esses monstros voltam pra casa aparentemente imaculados, saudáveis, mas guardam seqüelas das atrocidades cometidas nos campos de batalha. De uma forma ou de outra, o tiro sai pela culatra, e os efeitos da guerra passam a ser sentidos também do lado de cá do conflito. Acho mesmo que esse é ponto central do filme de Haggis, que, por sinal, não chega a ser grande coisa (o mote, não o filme): a guerra transforma homens em monstros capazes de qualquer barbaridade. No caso de No vale das sombras, ficamos assustados mais pela proximidade do que nos é contado do que pela originalidade das imagens ou do tema. Afinal, estamos todos no século XXI e essas cenas, muito comuns em filmes sobre a II Guerra Mundial e o Vietnam, permanecem nos assombrando.

No vale das sombras tem, só agora percebo, uma justificativa. De fato... De fato... Parecemos estar todos mergulhados nas sombras. Não apenas os soldados que voltam da guerra. Acho que os dirigentes políticos e a sociedade que, em parte, aceita as bravatas de um presidente burro e intolerante e os motivos de um conflito desigual e bárbaro.

Os Magalhães

As disputas patrimoniais da família de Antônio Carlos Magalhães ganharam a mídia mal o senador se acomodou na cova. Desafetos cultivados há décadas, apelidos pouco carinhosos e a extinção do almoço de domingo tão prezado por ACM deixam os cochichos de sala-de-estar e, estridentes, ecoam por todo o país: é a filha casada com um empreiteiro mandando arrombar o apartamento da mãe, são os netos se juntando para derrotá-la, é a viúva levantando suspeitas de ocultar parte dos bens. O motivo? Não tanto a grana do defunto, mas parte da origem do seu poder: a concessão de TV que retransmite a Globo na Bahia, o jornal de circulação vistosa - os tentáculos da família sobre a grande mídia, enfim.

Por mais que seja a prole do ACM, ainda sinto pena. Que família não tem podres e rixas encubados, só esperando a crise da vez pra se manifestarem? Pode ser cruel, mas vale perguntar: será que, um dia, vamos presenciar algo semelhante aqui na terrinha, com os Jereissati? Pra quem não sabe (e pra quem sabe também, mas não lembra :P), o Sistema Jangadeiro de Comunicação é controlado pelo nosso "galegin dos zói azaul" e retransmite o SBT pela TV Jangadeiro, além de vincular-se à Globo pela NET. E o que muda, depois de disputas assim?

quinta-feira, 20 de março de 2008


Quando a mãe parou um pouco com a máquina de costura foi que eu notei um som bonito entrando pela sala. Em vez de barulhento, era harmônico e suave. Nada do que costuma tocar nas vizinhanças, o forró, brega ou funk habitual dos fins de semana na minha rua, uma rua esburacada e torta, fora dos limites da Perimetral.
Um violino? Saí pra saber de onde vinha a música. Duas casas à direita da minha, um violino emendava uma harmonia na seqüência seguinte, sem pausas, sem parar numa música só. Era a mesma casa onde eu escuto tocarem músicas que me agradam, desde que eu era criança, de onde nunca se ouviram forrós nem seus similares populares e barulhentos. Mas eu não tinha coragem de botar a cara na porta do vizinho - meu contato com eles fica no bom dia quando saio e boa noite quando eu chego. Não porque não goste das pessoas que dividem o quarteirão comigo e minha família; mas porque meu gênio é de ficar entocada em casa na maior parte do tempo. Sorte que a menina da casa do meio foi espiar e eu perguntei:
- É gravação ou é alguém tocando um instrumento?
- É um homem tocando aí na eletrônica.
Fiquei parada em pé na minha calçada, ouvindo.
A mãe veio lá de dentro e eu contei o que era. Ficamos olhando o movimento do fim da tarde. Os buracos feitos pelas obras da Cagece no asfalto que antes era bom, regular, agora cheio de armadilhas lamacentas para os carros. A gente lá se espantando do tamanho dos buracos e do tanto de água empoçada, até que reparamos nas imagens refletidas. Num deles, a mãe apontou:
- Olha ali, a lua.
Mas a gente nem tinha câmera pra tirar foto. Não faz mal, a gente viu.



*Foto da minha rua, à direita da minha casa, em maio de 2006.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 14


Hoje de manhã um pássaro veio beijar-me a alma, tocando para mim o canto na janela do quarto. Num gesto nobre, saiu de seu recanto escondido, pousou-me no parapeito, endireitou o semblante e fez-me sonhar justamente no momento em que eu acordava. O som era puro e belo, indo ao encontro do que há de mais sublime na natureza divina. Um canto que beirava a devoção religiosa. Comovido, ajoelhei-me diante da ave e pus-me a rezar pelos meus amigos, irmãos e inimigos. Tal como se estivéssemos em uma procissão, o pássaro conduzia a cerimônia religiosa, entoando sua prece rogatória, enquanto eu, logo atrás, o seguia em uma fila imaginária, guiando meu espírito pelo som musical. No êxtase impetuoso, o canto do pássaro e a minha oração tonitruante uniram-se em uma só expressão, elevando-nos a mais lírica das melodias gregorianas. Unimo-nos até o gesto completo, quando eu me fiz de pássaro e o pássaro se fez de homem. Assim, fomos subindo o tom rítmico uníssono de nosso registro musical até o momento em que uma buzina de automóvel quebrou-nos a união, espantando a ave para longe, para onde eu não pudesse mais vê-la. Perdia-lhe, ali, talvez para todo o sempre. E a melancolia é o resto que me sobrou.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Avistado em ônibus #1

Sentou do meu lado em um Av. João Pessoa - 390, no rumo do Centro. Puxou assunto sobre Metrofor. Disse que era uma roubalheira. Eu tentei continuar lendo meu livro, mas ele continuou, perguntando o que eu achava do fato de atrasarem a construção da via por conta da preservação da Estação Ferroviária da Parangaba. Fechei o livro, guardando-o na mochila.
Sugeri que fizessem uma réplica e que seria muito melhor uma reforma geral no sistema de transportes do que um metrô. Ele perguntou se Fortaleza tinha estrutura pra isso. Energia, dinheiro, lugar pra construir as vias. Eu disse que não. Concordamos.

Depois o moço afirmava que os fute-fanáticos eram alienados, esse negócio de Fortaleza versus Ceará é besteira pra deixar o povo alienado, doidim, sabe?; que não tinha raiva dos políticos, mas do eleitorado-burro; e que era viciado em noticiários. Falava alto, acessa orkut, gosta de comentar as notícias do OPovo no site, acha msn uma besteira grande e chamava a atenção da maioria dos passageiros, com gente se perguntando como era que eu aguentava aquele homem ao lado e tudo.

Antes de descer na parada da Reitoria, perguntei o nome dele.
"Nome num precisa... Sou só mais um cidadão questionando essa situação que tá aí."
Trocamos um aperto de mão. Olhei bem fundo nos olhos dele, que desviou o olhar e retornou ao banco de plástico.
Horas mais tarde ele entraria para o meu portfolio.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 13


Por esses dias li um poema do cearense Adriano Espínola (1952) que me fez refletir sobre a beleza estética de alguns nomes como “Mar” ou “Mara”. Mal terminei de ler o poema, me veio uma vontade louca de dedicá-lo a um antigo e atual amor. Como não se pode ter controle sobre todos os nossos desejos, postá-lo-ei aqui.

MARAMAR

Se tu queres amar,
procura logo o mar.

Ali enlaça o corpo
salgado noutro corpo.

No azul esquecimento
das águas, vai sedento

beber a luz da carne,
o gozo a pino e a tarde.

Tenta imitar a teia
das ondas e marés.

Dança na branca areia.
Outro será quem és.

*

Poema dedicado a Mara Semyra de Paula Magalhães.

sábado, 8 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 12


Por volta dos 18 anos de idade eu tive, durante todo aquele ano, um escritor favorito que, na época, julgava ser o mais importante de toda a história da Humanidade: o irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Gostava, principalmente, do exibicionismo do escritor, mania esta que lhe renderia alguns anos de prisão, é verdade. Sem falar que o homem era um beberão inveterado, quase autodestrutivo. Aliás, o alcoolismo apressou-lhe a morte, mas duvido muito que Wilde estivesse preocupado com a Senhora da Foice quando tomava porres aniquiladores pelas ruas escuras e úmidas da Londres da segunda metade do século dezenove. Entretanto, o melhor mesmo de Oscar Wilde era a disposição para chocar as puritanas convenções da moralidade vitoriana de uma Inglaterra hipócrita e conservadora, como ainda hoje o é. Óbvio que eu ainda não conhecia Shakespeare, de modo que, por suprema idiotice, elegi Wilde como o salvador da banalidade da vida. De minha melancólica vida.

Hoje, relendo-o, Wilde ainda me é engraçadinho, mas não mais que isso. É, meus senhores, para vocês verem as voltas que o mundo dá na nossa cabeça. Cada coisa com o seu tempo. Talvez se eu tivesse contato com a obra de Shakespeare aos 18 anos, não lhe daria a menor bola. Mas hoje eu li algo do velho pederasta que me provocou arrepios de outrora. Na obra The critic as artist (O crítico como artista), de 1891, Wilde, elegantemente, provoca o jornalismo e a literatura de uma forma tão sublime que me é impossível não balançar o coração para ele. Uma crítica bem mais elegante do que comumente ouvimos por aí, quando o assunto é literatura e jornalismo. O diálogo segue abaixo primeiro no original e, em seguida, em uma tradução possível.


Ernest: But what is the difference between literature and journalism?
Gilbert: Oh! journalism is unreadable, and literature is not read. That is all.

*

Ernest: Mas qual é a diferença entre a literatura e o jornalismo?
Gilbert: O jornalismo é ilegível, e a literatura ninguém lê. É só.


quarta-feira, 5 de março de 2008

Lustosa da Costa também

Meus leitores devem saber que considero Lustosa da Costa o jornalista mais absurdamente hediondo da imprensa cearense. O sujeito é a prova viva de que o fanatismo político nunca pode ser subestimado. Dê espaço no jornal para um esquerdista moralmente deformado (pleonasmo) e veja o resultado:
A guerra da mídia

Está na cara que o governo da Colômbia, firme aliado de seu maior cliente (consumo de cocaína), os Estados Unidos e das oligarquias políticas que o sustentam, provocam o governo do Equador, invadindo, acintosamente seu território, mas na certeza de que estava a serviço de Washington, no empenho de domar o pequeno país independente de sua tutela. Por isso, a mídia, sempre a serviço dos interesses americanos, elogiou a ocupação da área estrangeira e divulgou documentos bolados e plantados pela CIA, contra o presidente da Venezuela e do país invadido. Os meios de comunicação refletem, rigorosamente, o que dizem as televisões e jornais americanos, entre nós. O presidente da Colômbia é o poodle de George Bush que, quando o manda latir, ele late, invadir países, ele invade. Um lulu com sotaque latino.

Serei breve: as Farc são uma organização terrorista composta por narcotraficantes, seqüestradores e assassinos, aliada do PT no Foro de São Paulo, financiada por Hugo Chávez e instalada dentro do Equador com a conivência camarada do presidente Rafael Correa. Álvaro Uribe agiu corretamente. Se terroristas atacam seu próprio país sob a proteção do presidente de outro, o que se deve fazer? Vá atrás dos bandidos, onde eles estiverem. É uma escolha entre ser covarde e impedir o crime. Álvaro Uribe escolheu enfrentar os caras maus. O resto é conversa fiada de quem, de um jeito ou de outro, apóia os bandidos.

Se, diante dos fatos, "está na cara" que são os Estados Unidos o vilão da história, eu digo: Lustosa, o senhor é um homem doente, que renunciou à razão em nome da sua ideologia que protege assassinos e endossa o terrorismo. O senhor se finge de humanista. Não passa de um hipócrita, de um retardado mental, que não consegue enxergar mais nada além dos clichês que aprendeu com os comunistas que o senhor tanto adora.

O senhor é nojento.

segunda-feira, 3 de março de 2008

O PT apóia o terrorismo


Hoje o PT confirmou oficialmente seu apoio total ao terrorismo das Farc. Um dia histórico.

Mas não surpreendente. O PT é companheiro das Farc no Foro de São Paulo, entidade que reúne partidos de esquerda, narcotraficantes e terroristas latino-americanos. Lula e Fidel Castro fundaram o foro em 1990 para "recuperar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu". Reproduzo trechos do post "Hugo Chávez, Marco Aurélio Garcia e as Farc: tudo a ver", publicado no meu blog em dezembro do ano passado:

Em 1989, como sabemos, o muro de Berlim caiu, e com ele, simbolicamente, o comunismo. Chateados com o aparente fim do sonho, líderes de partidos de esquerda, ditadores e terroristas decidiram construir uma espécie de assembléia, onde a luta revolucionária pudesse sobreviver saudavelmente. Em 1990, os senhores Fidel Castro e Luís Inácio Lula da Silva – ele mesmo – criaram o Foro de São Paulo, com o objetivo de, nas palavras de Castro, “recuperar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu”. Todos os anjinhos guerrilheiros da América Latina tinham então um lugar para chamar de seu.

A primeira reunião da festiva assembléia aconteceu em São Paulo. Participaram dela o PT, o Partido Comunista Cubano e as seguintes organizações humanitárias: Exército de Libertação Nacional (ELN) e Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC); Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) da Nicarágua; União Revolucionária Nacional da Guatemala (URNG); Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) de El Salvador; Partido da Revolução Democrática (PRD) do México. Com o passar dos anos, outros camaradas da região se juntaram ao Foro, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) do México. O Foro tem até revista própria, a trimestral América Livre. Você pode estar se perguntando sobre os recursos que sustentam as ações desse Diretório Acadêmico da América Latina. Eu posso citar algumas fontes de renda: seqüestro, roubo de gado, cobrança de impostos, assaltos a bancos, narcotráfico e afins. Fernandinho Beira-Mar já fez negócios milionários com a guerrilha colombiana.

É urgente ressaltar que o PT é amigo das Farc. Lembre-se, por exemplo, que o partido se negou a caracterizar as Farc como organização terrorista. Em setembro de 2003, o presidente colombiano Álvaro Uribe enviou carta aos países americanos solicitando a cada presidente que "designe formalmente as FARC como organização terrorista e que nos proporcione seu apoio para que o msmo ocorra nos diferentes fóruns regionais e internacionais". O PT nada disse. Para os humanistas do partido que comanda nosso país, assassinato de inocentes, seqüestros (de crianças, inclusive), mutilações em campos minados, decapitações e outras bondades são instrumentos perfeitamente aceitáveis na lutra contra o... não sei, contra alguma coisa, e em nome da construção do socialismo. Os dirigentes das Farc já foram recebidos como simpáticos convidados de Olívio Dutra, durante sua gestão como governador do Rio Grande do Sul. Quando Antônio Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, as Farc tinham na cidade um escritório de representação.

(...)

Agora vem Hugo Chávez com toda a pinta de articulador da libertação dos reféns. O comandante das FARC, Manuel Marulanda Tirofijo, anunciou sua disposição de entregar 3 dos reféns a Chávez ou a quem ele indicar. Nada muito surpreendente. O venezuelano pertence ao Foro de São Paulo desde 1995 (oficialmente) e é companheiro fiel dos terroristas colombianos. A respeito da decisão de Álvaro Uribe de dar um “chega pra lá” no teatro de Chávez, Tirofijo declarou: “A anulação da gestão facilitadora foi um ato de barbárie diplomática contra o legítimo chefe de um Estado irmão e contra o povo venezuelano, solidários com a solicitação feita desde Bogotá”.


Pois é. Impedir que um amigo de terroristas passe por cima da autoridade presidencial para fazer um jogo de compadres criminoso é “barbárie diplomática”. Deste modo, presumo que, para as Farc, matar em nome da revolução e manter crianças seqüestradas é normal.

Hugo Chávez, Farc, Marco Aurélio Garcia, PT... Tudo está no lugar certo. Se os reféns forem entregues (eu jamais desejaria que não fossem, que fique claro), a postura da nossa imprensa companheira mostrará sua delinqüência radiante: Chávez vira candidato em potencial ao Nobel da Paz; as Farcs são gente “disposta ao diálogo”; Álvaro Uribe é um bárbaro intransigente.

Mais de SETECENTOS reféns estão sob poder das Farc, acorrentados dia e noite na selva, alguns em estado de demência, segundo relato do ex-congressista colombiano Orlando Beltrán, libertado pela guerrilha na quarta-feira junto com outros três ex-parlamentares.

Qualquer ser humano normal, diante dos fatos, consideraria as Farc um bando de criminosos hediondos. O PT, porém, não é um partido de gente normal: a diplomacia petista pediu oficialmente que Álvaro Uribe se desculpe por ter mandado um terrorista pro inferno. Veja a moral das pessoas que nos governam. Nem um pio sobre os reféns mentalmente aniquilados pelas condições do cativeiro, e todo apoio a um terrorista.

Esse é o partido que manda no Brasil. Hoje foi o dia em que o PT admitiu abertamente o que os estudiosos do Foro de São Paulo sabem há anos: o partido apóia o terrorismo. Oficialmente. É essa a imagem que a diplomacia brasileira oferece aos olhos do mundo.

Notas melancólicas - parte 11


O poeta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) nos legou, entre outras lindezas, o poema abaixo. Um maravilhoso poema condizente à minha melancolia. Eu o li na manhã do último domingo, sentado em um banco no jardim do prédio onde moro, tendo como som ambiente risos de crianças que brincavam no parquinho banhado ao sol. “Oh, céus – imaginei amargurado – ler isso cercado de crianças deve ser como abrir uma garrafa de vinho dentro de uma trincheira ensangüentada de guerra”. Primeiro no original e, em seguida, uma tradução possível.

El suicida

No quedará en la noche una estrella.
No quedará la noche
Moriré y conmigo la suma
Del intolerable universo.
Borraré las pirámides, las medallas,
Los continentes y las caras.
Borraré la acumulación del pasado.
Haré polvo la historia, polvo el polvo.
Estoy mirando el último poniente.
Oigo el último pájaro.
Lego la nada a nadie.

*

O suicida

Não ficará na noite uma estrela.
Não ficará a noite.
Morrerei e comigo a suma
Do intolerável universo.
Apagarei as pirâmides, as medalhas,
Os continentes e as caras.
Apagarei a acumulação do passado.
Farei pó a história, pó o pó.
Estou olhando o último poente.
Ouço o último pássaro.
Lego o nada a ninguém.