Hoje de manhã um pássaro veio beijar-me a alma, tocando para mim o canto na janela do quarto. Num gesto nobre, saiu de seu recanto escondido, pousou-me no parapeito, endireitou o semblante e fez-me sonhar justamente no momento em que eu acordava. O som era puro e belo, indo ao encontro do que há de mais sublime na natureza divina. Um canto que beirava a devoção religiosa. Comovido, ajoelhei-me diante da ave e pus-me a rezar pelos meus amigos, irmãos e inimigos. Tal como se estivéssemos em uma procissão, o pássaro conduzia a cerimônia religiosa, entoando sua prece rogatória, enquanto eu, logo atrás, o seguia em uma fila imaginária, guiando meu espírito pelo som musical. No êxtase impetuoso, o canto do pássaro e a minha oração tonitruante uniram-se em uma só expressão, elevando-nos a mais lírica das melodias gregorianas. Unimo-nos até o gesto completo, quando eu me fiz de pássaro e o pássaro se fez de homem. Assim, fomos subindo o tom rítmico uníssono de nosso registro musical até o momento em que uma buzina de automóvel quebrou-nos a união, espantando a ave para longe, para onde eu não pudesse mais vê-la. Perdia-lhe, ali, talvez para todo o sempre. E a melancolia é o resto que me sobrou.
sexta-feira, 14 de março de 2008
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