quinta-feira, 20 de março de 2008


Quando a mãe parou um pouco com a máquina de costura foi que eu notei um som bonito entrando pela sala. Em vez de barulhento, era harmônico e suave. Nada do que costuma tocar nas vizinhanças, o forró, brega ou funk habitual dos fins de semana na minha rua, uma rua esburacada e torta, fora dos limites da Perimetral.
Um violino? Saí pra saber de onde vinha a música. Duas casas à direita da minha, um violino emendava uma harmonia na seqüência seguinte, sem pausas, sem parar numa música só. Era a mesma casa onde eu escuto tocarem músicas que me agradam, desde que eu era criança, de onde nunca se ouviram forrós nem seus similares populares e barulhentos. Mas eu não tinha coragem de botar a cara na porta do vizinho - meu contato com eles fica no bom dia quando saio e boa noite quando eu chego. Não porque não goste das pessoas que dividem o quarteirão comigo e minha família; mas porque meu gênio é de ficar entocada em casa na maior parte do tempo. Sorte que a menina da casa do meio foi espiar e eu perguntei:
- É gravação ou é alguém tocando um instrumento?
- É um homem tocando aí na eletrônica.
Fiquei parada em pé na minha calçada, ouvindo.
A mãe veio lá de dentro e eu contei o que era. Ficamos olhando o movimento do fim da tarde. Os buracos feitos pelas obras da Cagece no asfalto que antes era bom, regular, agora cheio de armadilhas lamacentas para os carros. A gente lá se espantando do tamanho dos buracos e do tanto de água empoçada, até que reparamos nas imagens refletidas. Num deles, a mãe apontou:
- Olha ali, a lua.
Mas a gente nem tinha câmera pra tirar foto. Não faz mal, a gente viu.



*Foto da minha rua, à direita da minha casa, em maio de 2006.