domingo, 23 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 15


Nem todos os homens fizeram as coisas que ele fez.

Woody Guthrie nasceu em 14 de julho de 1912, no estado de Oklahoma, Estados Unidos. Ainda criança e incentivado pelo pai, um rústico fazendeiro de Okemah, aprendeu tocar ao violão músicas do Velho-Oeste norte-americano; velhas canções folk de cowboys e índios. O pai de Woody, Charles Edward Guthrie, também era homem metido com política (tratava-se de um democrata) e não foram poucas as vezes em que levou o pequeno Woody consigo para passeatas ou mesmo para acompanhar os seus próprios discursos políticos. A mãe de Woody, Nora Belle Sherman, também lhe cantava baladas folk para dormir, sendo ela própria uma entusiasta do gênero musical cantando em sua terra. O garoto Woody, desde o princípio, mostrou-se precoce e um tanto quanto incomum quando comparado aos de sua idade, pois, calado, era capaz de passar horas e horas em um canto, observando aguçadamente o mundo, as pessoas de sua terra, a paisagem que o cercava, e, principalmente, a música tocada e cantada por seus conterrâneos. As canções que ouvia de gente mais velha deixariam forte impressão no espírito do menino.

Durante a infância em Oklahoma, Woody experimentaria a primeira de uma série de enormes tragédias pessoais: a morte acidental da irmã mais velha, Clara, queimada em um terrível acidente com uma lamparina. Essa ocorrência funesta levou a desestruturação da família de Woody, agravada ainda por complicados problemas financeiros. Woody viu tudo isso do alto de seus sete anos de vida.

Em 1920, quando Woody contava então oito anos de idade, petróleo foi descoberto em Okemah, ocasionando um verdadeiro “boom petrolífero” na região. Milhares de trabalhadores foram para a cidade, que, de um dia para o outro, se viu repleta de homens com variados sotaques oriundos todos os cantos do país; jogadores de todas as estirpes e pequenos trapaceiros que buscavam obter vantagens com a situação chegaram aos borbotões, e ali perambularam durante um par de anos. A outrora pacífica e pequena cidade natal de Woody fervilhava agora de gente e isso, mais tarde, teria enorme influência na vida do menino. Entretanto, em poucos anos, os poços de petróleo secaram e Okemah sofreu uma severa reviravolta na economia, deixando a cidade e os habitantes arruinados. O clima eufórico proporcionado pelo ouro negro deixou agora, entre os que residiam no lugar, um enorme sentimento de vazio. Uma depressão econômica, social e psicológica na população.

Woody absorveu tudo isso de forma visceral, mesmo com tão pouca idade. As experiências vividas em Okemah contribuíram significativamente para que ele acentuasse o sentimento de estranheza diante do mundo e das pessoas, fazendo-o adotar uma visão mais abrangente dos outros e de se si próprio. Os viajantes que chegaram e saíram inspiraram o jovem Woody a também querer ver o que existia além dos limites da pequena Okemah. As músicas dos viajantes, as histórias interessantes que eles trouxeram no estojo do violão, os sotaques e costumes diferentes com que expressavam suas vidas e cantavam suas canções, tudo isso implantou no coração e na mente de Woody a necessidade de cair na estrada. E foi o que ele fez.

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