sábado, 22 de março de 2008

God's my friend


[Acima, Deus estendendo o braço, espécie de varinha de condão]


Era isso? Deus existe?

Nobody knows.

Queria muito saber se tem qualquer coisa me espreitando no quintal de casa. Às vezes acho que sim — que tem e pode ser mesmo ele. Ele tem algo mais útil a fazer? Duvido. Deus é um preguiçoso. E um pervertido. Aposto que é o tipo da coisa que ele adora fazer. Ver-nos sem ser visto. Atrás das moitas, voyeur.

De qualquer forma, não vejo graça nisso. Ao menos não desde os quatorze anos de idade, quando disse a mim mesmo: “Essa gente só pode estar brincando comigo”. Afinal, Deus é mais implausível do que a conquista do título brasileiro por algum dos clubes cearenses. Mais até do que o meu baile de formatura. Ou do que o aniversário de quinze anos de Anita, minha filha — esse é mesmo o nome dela?

Como o universo, Deus é um mistério. Eles vão ou vêm? Se expandem ou encolhem? Ninguém sabe, ninguém viu. E por que cargas d’água as pessoas acreditam nele? Acreditariam da mesma forma se ele não existisse e em seu lugar um saco de farinhas tivesse sido dependurado numa cruz? Acho provável.

Tenho uma camisa que julgo me trazer sorte. Gosto dela. Fiz as duas provas antes de entrar na faculdade trajando essa camisa. Ao final de um mês, fui conferir o resultado do vestibular: havia passado. A camisa era mesmo encantada.

A fé começa desse modo. Primeiro porque não sabemos quase nada sobre como as coisas começaram. Até podemos saber como começaram, mas não sabemos o que tinha antes de tudo ir pelos ares. Ou sabemos? Não sabemos. Por isso disse que a camisa ajudou. Porque preciso acreditar em qualquer coisa. Mas, a pergunta de um milhão: por que precisamos crer no transcendental, no inexplicável, no imponderável? Ou tudo é inexplicável, transcendental, imponderável?

A idéia de Deus está ligada à da arte. Ele só existe porque podemos inventá-lo. Tem o mesmo princípio ativo do teatro, da música, da novela, do romance, do cinema, do conto de fadas. É tão consistente quanto Ulisses e Macunaíma. Existe como existem Indiana Jones e Charles Brown. De fato, é bacana que exista. Não tenho nada contra isso. Apenas acho que as pessoas se levam muito a sério e acabam esquecendo que nada pode nos fazer acreditar, de modo racional, num... Num Deus! E que ele tem tudo pra ser uma... Ficção! Seria tão mais divertido acreditar sabendo que ele simplesmente não repousa acima das nuvens. Que nos vigia dia e noite. Que foi o responsável por tanta coisa.

Parênteses. Uma coisa sempre me impressionou nessa história toda de Deus — quem fora o responsável por sua criação? Porque tava na cara que ele, mesmo tão poderoso e divino, tinha vindo de algum lugar. E, nesse caso, mesmo a noção do nada era assustadora. Porque podia e pode conter muita coisa. Desse modo, toda a minha capacidade de crença religiosa foi ferida de morte.

Adoraria acreditar em Deus. Mesmo. Mas não acredito. Explicar a criação de tudo é uma questão de tempo. O grande nó é: por quê? Por que os bichinhos escolhidos fomos nós e não eles? Por que demoramos tanto tempo nos explodindo antes do final dos tempos?

Que merda, a única coisa que importa é o porquê das coisas.

Mais aqui. Leiam. É sempre divertido imaginar que algumas coisas têm sentido e podem explicar muito do que veremos um dia.

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