sábado, 8 de março de 2008

Notas melancólicas - parte 12


Por volta dos 18 anos de idade eu tive, durante todo aquele ano, um escritor favorito que, na época, julgava ser o mais importante de toda a história da Humanidade: o irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Gostava, principalmente, do exibicionismo do escritor, mania esta que lhe renderia alguns anos de prisão, é verdade. Sem falar que o homem era um beberão inveterado, quase autodestrutivo. Aliás, o alcoolismo apressou-lhe a morte, mas duvido muito que Wilde estivesse preocupado com a Senhora da Foice quando tomava porres aniquiladores pelas ruas escuras e úmidas da Londres da segunda metade do século dezenove. Entretanto, o melhor mesmo de Oscar Wilde era a disposição para chocar as puritanas convenções da moralidade vitoriana de uma Inglaterra hipócrita e conservadora, como ainda hoje o é. Óbvio que eu ainda não conhecia Shakespeare, de modo que, por suprema idiotice, elegi Wilde como o salvador da banalidade da vida. De minha melancólica vida.

Hoje, relendo-o, Wilde ainda me é engraçadinho, mas não mais que isso. É, meus senhores, para vocês verem as voltas que o mundo dá na nossa cabeça. Cada coisa com o seu tempo. Talvez se eu tivesse contato com a obra de Shakespeare aos 18 anos, não lhe daria a menor bola. Mas hoje eu li algo do velho pederasta que me provocou arrepios de outrora. Na obra The critic as artist (O crítico como artista), de 1891, Wilde, elegantemente, provoca o jornalismo e a literatura de uma forma tão sublime que me é impossível não balançar o coração para ele. Uma crítica bem mais elegante do que comumente ouvimos por aí, quando o assunto é literatura e jornalismo. O diálogo segue abaixo primeiro no original e, em seguida, em uma tradução possível.


Ernest: But what is the difference between literature and journalism?
Gilbert: Oh! journalism is unreadable, and literature is not read. That is all.

*

Ernest: Mas qual é a diferença entre a literatura e o jornalismo?
Gilbert: O jornalismo é ilegível, e a literatura ninguém lê. É só.


Um comentário:

VINICIUS.MOTA disse...

Será por isso que alguns jornalistas brilhantes, destacados da média porque se fazem legíveis, tornam-se bons escritores?