Dizem que uma das coisas mais inteligentes que qualquer estudante de idiomas pode fazer, se quiser sair do básico (aprender a iniciar uma conversa, fazer compras e bancar o desorientado em outra língua), é ler. Lendo, ele ou ela entra em contato com palavras novas em seus contextos mais recorrentes, se vira com a lógica pra compreender expressões idiomáticas, se familiariza com a cultura em que estão inseridos os vocábulos estrangeiros.
Pra lidar com situações variadas, vale ler tudo, mas os textos jornalísticos em particular talvez sejam os mais recomendados, graças ao seu compromisso com a fluidez e a fluência. A pessoa corre menos riscos de soar como um cidadão vitoriano em pleno século XXI lendo jornais e revistas em inglês que mergulhando em um romance de Dickens, por exemplo. Embora uma leitura não exclua a outra.
Andei pensando nisso por causa de dificuldades pessoais pra desenrolar certas línguas (como se já não bastasse a língua presa em português...). No entanto, mal me fiz a promessa de férias de me dedicar à leitura regular de periódicos estrangeiros, veio a dúvida de estudante de Comunicação desconfiada: além do idioma, o que vou absorver dos países de origem dos órgãos de imprensa que eu escolher? O contato com os jornais e revistas nacionais, contraposto à vivência cotidiana e ao acesso a fontes minoritárias, me ensinou a quase nunca acreditar plenamente na forma como certos aspectos do Brasil são estampados nas páginas dos veículos de comunicação. Se o jornalismo brasileiro professa sua utilidade pública mas não está livre de interesses bem privados, por que o que é feito no exterior estaria?
Quão diferentes seriam os Japões vistos por um estudante de japonês da UECE e por um morador de Osaka, ambos leitores do Asahi Shinbum? E as Franças lidas no Le Monde por uma dondoca chinesa e um trabalhador de Paris? Spiegel é a palavra alemã para "espelho", mas será que o reflexo é o mesmo, quando olhado de dois pontos diferentes?
Muitas vezes, a cobertura feita por um jornal de fora parece desprezar contextos nacionais distintos e pasteurizar tudo para seu público de origem. Mas, assim como cada veículo de imprensa brasileiro mostra um Brasil diferente, é de se esperar que o mesmo aconteça com os veículos nativos dos outros países. A diferença é que nem sempre se sabe aonde ir em busca de outra(s) versão(ões). Além de aprimorar o domínio do idioma estrangeiro, é bom aguçar a criticidade diante do que é lido. A credulidade cega não me parece boa, qualquer que seja a língua.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
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Um comentário:
Ótimo artigo, Débora. Prometo comentar com mais calma...
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