sábado, 8 de dezembro de 2007

Eu devia era estar estudando

Fico contente quando leio uma entrevista como a que David Duarte, o príncipe da MPB cearense, concedeu ao Jabá. O cara é foda mesmo, saca das coisas, tem trabalhado mais com publicidade que com música em si e ainda assim saca das coisas, diagnostica problemas, sugere soluções, é um cara cem por cento, disso não resta dúvida. Mas é um tremendo pedante e amostrado. Sofre de um mal que acomete onze em cada dez artistas da terra: estrelismo. Eu canto. Devo, portanto, ser reconhecido por qualquer pessoa em qualquer esquina da cidade. Você é um imbecil se não me conhecer. Tudo bem, sou um imbecil.

Pra ele, as pessoas que não gostam da sua música, que é boa por natureza, imagino, têm preguiça de pensar. Por outro lado, gostar de forró é quase uma doença, um câncer. Ele diz isto: “As pessoas têm preguiça de pensar”. Bonner, o do jornal, concorda: ambos acreditam que somos todos um bando de retardados, réplicas bem-acabadas de Homer Simpson que não conseguem somar dois com dois e por isso ligamos o rádio pra ouvir mensagens pornográficas.

David vai mais longe: diz que forró é um caso de saúde pública. Precisa ser tratado. Até que faz algum sentido. Porque ele tá falando especificamente de alcoolismo, uma coisa de que parece ser grande entendedor. Por isso fico calado, o cara sabe o que é melhor pra todos, sobe ao palco e fica espantado com a apatia do público de uma cidade do interior, que quer forró, sim, e não um som maneiro e cheio de erudição.

Bom, não posso me considerar um preguiçoso: gosto das músicas do principezinho. Mais das canções que dele mesmo, que é foda demais, saca muito das coisas, manja de quase tudo e ainda por cima faz trinta jingles por dia. Ele é bom mesmo, e eu, apenas um estudantezinho de jornalismo que não sabe distinguir abacaxi de azeitona.

E ainda por cima sou um ressentido. Sou, sim, e quem não é?

2 comentários:

Débora Medeiros disse...

Ruim é quando os ressentimentos interferem na maneira como ouvimos qualquer coisa dito pelos alvos do nosso ressentimento... Eu, que guardo mágoas e não aprendo, sei disso bem.

Tava conversando sobre essa entrevista hoje mesmo com o Bruno Reis. Távamos pensado o seguinte: se o público tivesse simplesmente vaiado a apresentação do David e dito que não o queria no palco, talvez o que ele diz na entrevista parecesse mesmo pedantismo, estrelismo, expectativa de que todos tivessem a obrigação de reconhecer a grandiosidade do seu trabalho. Gritar "Forró! Forró!" pra qualquer artista que suba no palco é diferente. Não tá na entrevista por questão de espaço, mas o David contou da apatia do público com vários outros artistas num desses festivais de que ele participou no interior. Por quê? Será que viramos mesmo um bando de jumentinhos adestrados pra só reagir ao som do baixo de 6 cordas do chamado forró elétrico?

E a reflexão sobre o modo de vida louvado pelo forró é mesmo interessante. Atualmente, as letras são quase todas sobre sexo, escatologia e bebidas alcóolicas. Parece muito com o gangsta rap norte-americano, misógino, ostensivo e violento: muitos fãs do gênero se esforçam pra levar uma vida assim. A arte já serviu muitas vezes pra propagar certas ideologias e estilos de vida, por que seria impossível que isso estivesse acontecendo agora?

Vou trabalhar melhor o texto definitivo pro jornal, incluindo certas perguntas que tive de cortar por espaço, pra deixar a discussão ainda melhor! :)

Henrique Araújo disse...

Comento a tua resposta noutro post. Ficou um pouco grande, achei melhor colocar diretamente na página mesmo.

Fui...