quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Serenando ao meio-dia

Acho que a gente precisa de um contraponto, alguém que empunhe as velhas bandeiras da esquerda no blogue. Não apenas isso, claro. Tem também de nos convencer de que essas bandeiras ainda estão em boas condições de uso e que, se hasteadas, não vão se esfarelar à primeira brisa. É tão difícil encontrar gente disposta a mudar o mundo e que saiba escrever. Que não enrole, que diga as coisas com clareza, que tenha estilo. É pedir muito?

Algum candidato? Receberemos currículos, sim. Vamos abrir edital, é mais democrático. Sei lá, conheço poucos marxistas declarados. Na verdade, só conheço um. Acho que ele não toparia, é uma pessoa muito ocupada. Tem o mestrado e outras coisas. E não é toda vida que assume o marxismo dele. Só quando estamos sozinhos, calados. De repente, ele suspira e diz: “Esse meu marxismo...” Fico sem entender.

Enfim, é o que há. Sem utopias aparentes. As utopias são realmente importantes? Dizem que sim. Eu não sei responder, mas arrisco: acho que não sinto falta de uma. Isso pode soar melancólico, e é. Sou melancólico. Minha geração tem essa cara de quem comeu e não gostou. Quer dizer, é pior que isso. A cara é de quem comeu e não sentiu o gosto.

A coisa está nesse pé. Estamos num beco sem saída? Acho que não. Talvez sequer estejamos num beco, mas numa sala, na cozinha ou mesmo numa rua com muitas saídas, infinitas. Ocorre que só conseguimos enxergar a parede sem portas. Ou nem isso. Quem sabe a calçada ou a base de um poste fincado a dois metros de onde estamos sentados, conversando.

Queria ouvir de alguém: isso é só um sonho ruim. De qualquer forma, vale perguntar: ruim por quê? Esse sentimento não combina muito comigo. Nem com você, imagino. Não combina com ninguém. Não perdi nada, não ganhei absolutamente nada com a queda do muro, por exemplo, e o fim da história. Ou com a revolução cubana ou a queda das torres. Ou a reeleição de Lula e o fim da CPMF. Ou com a derrota de Chávez e a vitória de Kaká. Nada. Tudo acontece, mas nada se move. Correção: nada me comove.

Agora, fiquei curioso: utopia serve pra quê? A melancolia vem disso, vem de longe. As gerações mais velhas tentaram mudar as coisas e quebraram a cara. Tentaram implantar um modelo de sociedade mais justo e quebraram a cara. Tentaram subverter a ordem, mas, invariavelmente, quebravam a cara. Donde concluo: ou as coisas devem ser assim mesmo e tentar mudar é besteira, ou todos estamos predispostos a quebrar... Sim, a cara.

Daí a pergunta: por que utopias?

Respondo: pra cegar. Utopias nos cegam. Melhor olhar pra realidade sem floreios, ver o que ela é e o que pode ser, mas sem muitas frescuras, sem messianismo, certo? Acho que é isso. O recado é esse. Se esforcem, construam algo. Sejam bons meninos e boas meninas. E cuidem bem das plantinhas do jardim de casa.

6 comentários:

Anônimo disse...

Estou decepcionada com este blog...

Yuri Leonardo disse...

Valeu o recado, Henrique.

Por que a decepçao, hérbelins?

Anônimo disse...

Quando vão falar do D. Cappio>>> E da mais nova "comédia da vida pública" da cidade, a tal festa VIP de duzentos e tanto mil reais da Prefeita> E que tal a atrasada solenidade (um século depois) dos 40 anos de morte do Che e a milionésima repetição dos Diários de Motocileta (não aguento mais esse filme)>>> Meu povo, o tempo urge, os fatos pipocam! Parem de divagar o tempo todo sobre utopias, sonhos, direita, esquerda, ânus (essa é pro rodolfo) e etc e tal... Os temas circulam, vêm e vão... O debate ora esquenta, ora esfria, fiquem ligados no que há de fervilhante no momento. Ah, e chega de CPMF também (principalmente na lista do DATA). Tá bom já... esperem o lula criar um novo pacote de impostos pra retomar esse assunto.

Abraços efusíveis epaminondas,

Hebelí Rebouçá

Débora Medeiros disse...

Hmm, acho que as utopias são, sim, necessárias. Se não as temos, é muito difícil não cair no pessimismo. As utopias, sejam elas as de mudar o mundo ou simplesmente mudar a sua vida, são o que movem as pessoas a tentar coisas novas e, às vezes, extremas - para o bem ou para o mal.

Não acho que só as utopias cegam. Quem disse que conseguimos ver tudo como é? Isso, sim, é uma utopia.

E discutir essas coisas por aqui é tão produtivo quanto discutir as farras do governo, o Che ou o que seja... Por que não seria? A vida não é feita só do factual. Muitas vezes (pra não dizer sempre), o factual se alimenta de coisas que estão rolando há anos no plano de fundo.

Hébely disse...

O problema é que já somos muito grandinhos pra insistir nesse tema, débora... Na minha opinião, e isso é pura opinião, há assuntos mais importantes a serem discutidos.

Mas enfim, não quero dizer que não se possa falar disso, entende? Não me interpretem mal. Só disse que estou sentindo falta de algo mais "quente", se é que me compreende...

Débora Medeiros disse...

Acho que o negócio é balancear as duas coisas, Hébely. Teu comentário foi legal pra gente começar a pensar nisso :) Porque, realmente, ficar viajando sem chegar a canto nenhum não dá... nem se resumir a comentários do dia-a-dia, sem perceber a conexão deles com o resto que já passou ou que nunca passa.