quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A minha é maior que a sua


Não é que não goste de árvores de Natal. Gosto. Quero dizer, nem tanto. Não tenho uma em casa, mas minha mãe mantém uma pequena mas simpática bem na entrada da sala e, todas as noites, há pelo menos duas semanas, acende as suas luzinhas coloridas e torna os nossos dias mais... natalinos.

Na verdade, vou confessar: tenho simpatia por árvores de até um metro de altura. A partir daí, a ojeriza toma conta de mim. Anos atrás, elaborei um plano, real e meticuloso, que consistia na derrubada da árvore que havia sido fincada no estacionamento de um dos shoppings mais movimentados da cidade. Reuni comparsas dispostos a fazer justiça, mas, por alguns motivos que não convém expor aqui e agora, às vésperas do Natal, prefiro não comentar. No final das contas, prestes a executarmos o plano, demos pra trás. Contudo, nos fizemos uma promessa: do ano que vem não passaria. Passou, não uma, mas três ou quatro vezes.

De qualquer forma, acho curiosa a disputa entre árvores no final do ano. Ontem mesmo – ou foi hoje? – assisti a uma reportagem sobre isso. Nela viam-se árvores de tamanhos variados, mas sempre acima dos quarenta metros, espalhadas por cidades como Natal, Curitiba, Fortaleza e, creio, São Paulo. Natal tem uma árvore bem maior que a nossa. A de Curitiba é cerca de dez metros menor. Nossa árvore está, ao que parece, entre as maiores do Brasil. Me refiro à que fica na Praça Portugal e foi decorada com redes de dormir. Ela é realmente bonita. Ao redor, os poodles da classe média não podem fazer cocô. Os meninos e meninas que veneram a cultura nipônica devem ter gostado, a praça ganhou um colorido que não tinha antes. Serve de personagem às tramas dos seus animes. Ou como mais um ingrediente à costumeira e saudável depressão pasteurizada da “tribo dos cabelinhos” (emos).

Existe, porém, a “hipótese freudiana”: como revólveres, vassouras e alguns aparelhos de academia, árvores de Natal são objetos fálicos. A lubricidade consumista que marca os festejos de final de ano contribui enormemente para o adensamento de certo clima sob o qual cotejar árvores torna-se algo, digamos, excitante. Como friccionar os lábios contra outros lábios – o mesmo vale para partes do corpo menos à vista –, é algo gostoso de fazer. Os shoppings adoram exibir as suas nas calçadas e mostrá-las aos transeuntes, que salivam ante a monumental linearidade do mastro ao qual se prendem fitas coloridas, redes e luzinhas que piscam e piscam sem parar, num ritmo que se torna mais frenético e orgástico a cada ano. Tudo isso coroado pela figura mais pedófila de que se tem notícia: o Papai Noel.

Ou talvez apenas gostemos do colorido sem graça das árvores. Afinal, crianças, jovens, adultos e velhos gostam delas. Heterossexuais e homossexuais também. Donas de casa e empresárias da mesma forma. Eu também gosto de árvores de Natal. Menos das pops que enfeitam as praças do que das pequenas que animam salinhas apertadas das casas nos subúrbios de Fortaleza.

4 comentários:

Roberta Felix disse...

Não gosto de fim de ano. Toda essa pressão pra entrar numa suposta onda natalina me assusta. Acho desperdício tanto pisca-pisca no mei do mundo gastando nossa cara e preciosa energia hidroelétrica. Sem falar na breguice que fica a decoração de certos centros comerciais, um exagero, mas enfim. Eu também prefiro as arvorezinhas simpáticas - nas casas que visito, porque na minha nunca tivemos uma. Mas este ano minha irmã comprou um enfeite de porta que diz PAZ.

Henrique Araújo disse...

acho boa a idéia do enfeite. vou sugerir pra mamãe...

Débora Medeiros disse...

A árvore daqui acho que tem quase a minha idade, compramos na Mesbla (!), numa dessas liquidações da vida. Antigamente, decorávamos em família, agora é tarefa da minha irmã porque ninguém pode mais participar, por questões de saúde (devido à poeira) ou de falta de tempo. Até que fazia sentido antes.

Henrique Araújo disse...

a caminho de casa, ontem vi um homem decorando a sua árvore com algodão e algumas bolinhas coloridas. era, sem dúvida, a árvore mais pobre que já vi em toda a minha vida.

por tabela, lembrei dos cinqüenta metros enfeitados com redes da praça portugal.

moral da história: não tem espírito natalino que posssa apagar certas coisas.