terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Indo além de modo transversal


Enveredando-me pelo Nada (é como chamo carinhosamente a Internet), encontrei uma entrevista com o escritor e jornalista gaúcho Fausto Wolff, de 67 anos, a qual reproduzo aqui um trecho de minha conveniência. Volto depois.

Fernando Toledo: Dr. Fausto Wolff, bem... é... o que você acha do jornalismo feito hoje pelos nossos colegas mais jovens?

Fausto Wolff: Eu acho que é um jornalismo de merda. Acho que é um jornalismo de merda porque ele não leva o povo em consideração. Porque ele faz um jornalismo imparcial. Eu sou um jornalista parcial. Entre o bancário e o banqueiro eu vou escrever sempre a favor do bancário.

Voltei

Viram aí? Na condição de jovem estudante universitário, a resposta do Lobo não me poderia ser mais incômoda. Nada mais insosso que a produção jornalística atual, principalmente a impressa. A prática do bom jornalismo está em baixa, e o jornalismo de opinião, então, esse agoniza. Parece-me que em algum momento histórico ainda não especificado, jornalismo e cultura se desuniram numa briga feia, daquelas de acordar os vizinhos e cães num raio de 20 quilômetros.

O fato é: quatro anos alisando bancos de um curso de jornalismo parece-me ser um contra-senso, vez que, a menos para mim, me impossibilitou de ter mais tempo livre para obter uma coisa que não se ensina: cultura. Por certo me deparei com mestres iluminadores, claro. Entretanto, eu realmente gostaria de ter tido mais tempo e dinheiro para realizar minhas leituras básicas, coisas que não fiz por estar deveras ocupado, usufruindo minhas parcas economias em bebidas alcoólicas e investindo meu escasso tempo em perseguir certa menina. Faz-se necessário que eu obtenha o mínimo de tempo possível para assimilar qualquer coisa, longe da pressão de trabalhinhos acadêmicos que só nos fazem encher o saco, pelo menos a maioria deles.

Essa garotada que está entrando hoje nas escolas de jornalismo são puro gás: multimídias, simpáticos, expansivos e o escambau, entretanto, para qualquer um deles, falta lhes tempo para compenetrar-se em qualquer idéia mais duradoura que o seja. Tudo é rápido, tudo é prático e tempo refletido é tempo desperdiçado. Nesse ínterim, tome lhes jornalismo de achismo e arroubos de falsos polemistas – que, na mais absoluta falta do que fazer, criam efêmeras polêmicas que já nascem mortas, não conseguindo fermentar um verdadeiro debate digno de tal nome.

Para além disso, o jornalismo poético agoniza. O que diabos chamo de jornalismo poético? Aquele que cultiva não só o tema a ser abordado, mas também a preocupação com o estilo do texto; com a estética da coisa. Pior: não se há mais outras formas de pensar idéias na chamada “grande mídia” impressa. O editorial da Folha de São Paulo copia o do Estadão, que ecoa no Diário do Nordeste, que vaza para O Povo, num grande ciclo pasteurizado e asséptico.

Um curso de jornalismo, não sei, talvez devesse se aproximar de suas irmãs mais velhas, logo mais sábias, como a Filosofia, a Literatura e as Ciências Políticas, por exemplo. Jornalismo, por incrível que pareça, deveria rimar com cultura e não com vulgaridade. De vulgar, camaradas, já basta a vida, da qual nutro profundo desrespeito.

Em tempo: sou corporativista, por que não? Engenheiros o são, médicos também, pedreiros igualmente, por que não posso ser também? Sou favorável ao “diproma” e pretendo, o quanto antes, filiar-me ao sindicato da categoria. Alguns se chocarão com essa revelação, pois, no começo do curso, eu zombava dos defensores do canudo, com o seguinte argumento. “Francis não o teve, por que precisaríamos dele?” Mas, vocês vêem, assim como o presidente Lula, tenho o direito de ser uma “metamorfose ambulante” e virar a casaca.

Em tempo’: já que o citei, meu próximo comentário neste blogue será sobre o Francis (ou não). Prendam a respiração, pois falarei um pouco sobre o homem. Até lá.

4 comentários:

Henrique Araújo disse...

Boa, texto alinhadíssimo à esquerda... O Bruno já disse que não alinha à esquerda. "Por uma questão estética", justificou-se o camarada.

Tudo bem, a gente entende.

Yuri Leonardo disse...

Agora eu me preocupei com a minha formação!

E o próximo post teu eu leio - e posto outra coisa, mas como resposta.

Débora Medeiros disse...

Quando me matava no 3º ano pra entrar na UFC, eu nutria a ilusão de que aquele seria o último ano em que abdicaria de ler o que gosto, de escrever com constância, de refletir sobre as coisas gerais... Doce ilusão. Estes dois anos de Comunicação que já vivi me mostraram que a Academia não te deixa muito tempo pra pensar um pouco fora dela e, quem sabe, assim, renová-la. Não dá pra voltar ao meu ritmo de leitura da adolescência ou a escrever um conto por semana.

Mas acho que a experiência de viver, no mínimo, quatro anos pensando Comunicação também enriquece. A questão é saber aliar essa riqueza ao desejo de mudança e misturá-la com tentativas de viver o mundo. Ainda tem como escapar do feijão-com-arroz. Pelo menos, desde que entrei no curso, tenho tido contato com pensamentos e liberdade pra tentar jornalismo de outras maneiras, para além das convencionais. Acho que, sem diploma, fica bem mais difícil pensar fora das formas das grandes empresas, porque você cai de pára-quedas nelas, sem ter tido tempo de experimentar outras vivências.

Henrique Araújo disse...

vocês tocaram no ponto nevrálgico da coisa: tempo, essa coisa escassa. a débora disse algo extremamente importante: na faculdade, falta-nos tempo para pensar. é incrível que isso ocorra. por quê? porque esse é um dos papéis da faculdade: estimular a reflexão.

puxando a questão pro nosso lado, o do jornalismo. costumo aconselhar aos camaradas mais jovens: façam disciplinas opcionais, explorem outras áreas (as tais coisas irmãs de que fala o rodolfo, ciências sociais, literatura, psicologia, história). do contrário, preparem-se para se tornar joranlistazinhos de merda. porque essa é uma das poucas alternativas que nós, do jornalismo, temos: misturar nossa reflexão no campo da comunicação às contribuições de outras ciências e, disso tudo, tentar fugir da mesmice do jornalismo diário. gente, e como é difícil fugir dessa mesmice. tudo parece nos empurrar pra ela.

era isso. antes, me angustiava bem mais quando queria ler os meus livros e tinha, ao mesmo tempo, de fazer um fichamento ou apresentar um trabalho qualquer. hoje, no 6 período, aprendi a privilegiar, na medida do possível, essas "minhas coisas". elas fazem toda a diferença.

fui, mas a discussão é boa...