Intensas repressões político-religiosas transbordam na história da humanidade. Perseguições e execuções cruéis acirraram intolerâncias e geraram inúmeras hostilidades, algumas perpetuadas até hoje. No meio desses conflitos todos, somente uma certeza: mortes aos borbotões.
Um dos episódios mais brutais envolvendo disputas político-religiosas foi, sem dúvida, o massacre do dia de São Bartolomeu em 1572, que teria enorme repercussão por vários séculos na Europa, e, por extensão, no mundo todo.
Chegando à França por volta de 1530, a Reforma de Calvino (teólogo francês, 1509-1564) teve considerável aceitação entre os camponeses e alguns religiosos franceses. País católico, os reis franceses, de início, mostraram-se tolerantes para com os protestantes (lá, conhecidos como huguenotes). Entretanto, com a expansão das igrejas reformistas pela França (a primeira delas foi fundada em 1555, em Paris), o governo real passa a perseguir agressivamente os protestantes, e muitos deles partem da França em busca de um novo lugar onde pudessem exercer livremente sua prática religiosa (no mesmo ano de 1555, por exemplo, um protestante francês, Villegagnon (1510-1571), fundou aqui no Brasil a França Antártica).
Rapidamente, o protestantismo espalha-se, mesmo de forma clandestina, e alcança, além de artesãos e comerciantes, algumas famílias de sangue nobre, como os Bourbon. Pastores eram formados na Suíça, país onde havia maior tolerância civil-religiosa, e enviados a Paris para auxiliar na formação de novos pastores franceses.
Durante esse meio tempo, começaram também os primeiros massacres contra os huguenotes, culminando com o fatídico dia de São Bartolomeu. Na noite do dia 24 de agosto de 1572, um domingo, as tropas reais sob o comando do rei católico Carlos IX (1550-1574) começaram uma prolongada orgia de saques e matanças a huguenotes em Paris, trucidando indiscriminadamente homens, mulheres e crianças protestantes. Os massacres logo se estenderam a outras cidades do interior da França, convertendo-se, no total, em aproximadamente 11 mil mortos*. Um verdadeiro banho de sangue. Algumas dessas pessoas foram mortas por simples suspeitas de terem aderido ao reformismo de Calvino. Famílias inteiras, que não tiveram tempo de escapar ante a brutalidade dos soldados reais, foram massacradas e suas casas foram queimadas com seus corpos dentro. Andou-se sobre cadáveres durante vários dias nas ruas de Paris. O cheiro dos corpos em putrefação permaneceu por vários meses na atmosfera da cidade.
Entre tréguas, hostilidades e guerras, as perseguições a huguenotes permaneceram firmes até 1685, quando milhares deles deixaram a França para viver em países com maior liberdade civil e religiosa, como Holanda, Inglaterra e Estados Unidos. Um triste capítulo no ruidoso livro dos derramamentos de sangue na história da humanidade.
*11 mil almas, alguém pode pensar, não são assim números tão expressivos. O trânsito brasileiro mata uma média de 30 mil pessoas ao ano. Entretanto, convém lembrar, essas 11 mil vítimas foram abatidas a golpes de espada, em uma época em que não existiam ainda as armas de destruição em massa. Estima-se que 70 mil protestantes foram assassinados até o final de 1572, a partir dos ataques de Paris.
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