domingo, 17 de fevereiro de 2008

$urgir, $orrir, $umir

Da coluna da Mônica Bergamo, na Folha de hoje.

Um determinado picolé faz 65 anos e a Kibon consegue reunir em sua "festa de aniversário", há um mês, em SP, mais celebridades do que a estréia do Cirque du Soleil. Um lançamento de jóias atrai mais "famosos" que a comemoração dos dez anos da Orquestra Sinfônica de SP. Bem-vindo ao maravilhoso mundo do "product placement", ou "colocação de produto". Funciona assim: uma celebridade, bem remunerada com o chamado "cachê de presença", aparece assim, como quem não quer nada, na festa de promoção de um produto. Atrai fotógrafos. E o evento acaba divulgado gratuitamente em sites, revistas, jornais e TVs.

A top model Naomi Campbell, por exemplo, recebeu R$ 100 mil para "fazer presença" no Carnaval de Salvador. A missão de Naomi, contratada pela agência África, era "colocar o produto" (no caso, a folia baiana) na mídia. Já uma cervejaria investiu 170 mil para levar a americana Lucy Liu ao Sambódromo. A prática está tão disseminada que os "famosos" não quiseram aparecer em camarotes do Rio neste ano sem ganhar cachês. "Presença é feita no mundo todo e o uso de celebridades para atrair a atenção é absolutamente moderno e atual. Não é coisa cafona do Brasil. Podem achar isso. Eu vou continuar usando", diz o publicitário Nizan Guanaes, da África. "Qualquer um quer colocar o seu produto nas mãos de pessoas bacanas."Há pessoas bacana$ e outras muito bacana$$$$$$. Carolina Ferraz, por exemplo: é muito bacana. A atriz é bonita, tem prestígio e raramente faz "presença". Seu cachê é um dos mais caros: está no patamar de R$ 35 mil, de acordo com listas de promotores de eventos às quais a coluna teve acesso. Carolina não fala de valores. "Em alguns casos, as presenças estão incluídas no pacote de uma campanha publicitária. Mas, no caso do patrocinador de uma peça minha, por exemplo, existe uma troca de gentilezas. Vou sem cobrar." No topo do ranking estão também nomes como Deborah Secco, Taís Araujo e Flávia Alessandra, com cachês em torno de R$ 30 mil.

Estrelar a novela das oito da TV Globo turbina o preço. Numa lista de presença de 2007, por exemplo, Alinne Moraes aparecia com cachê de R$ 25 mil. Com cinco meses de "Duas Caras", está cotada em R$ 40 mil. "Não seria ético nem elegante falar de valores", diz Antonio Amancio, empresário da atriz. "Posso dizer apenas que ela dificilmente aceita presença." Quando o artista está na novela, "o cachê sobe, e sobe muito. Em média, R$ 10 mil", diz Rogério Naves, empresário de Flávia Alessandra, de "Duas Caras". "Com essa história de dança sensual [da novela], a Flávia recebeu muito convite para fazer presença VIP em eventos de produto erótico. Mas sempre recusou. Ela é super família."

Ike Cruz, empresário de Juliana Paes, diz que, na época em que a atriz estava em "América", "pingava orçamento de leilão de gado. Eu dizia: "A Juliana não vai fazer isso". Me perguntavam: "Ah, mas quanto é?". Não tem quanto, ela não vai fazer, não tem preço. O negócio da Juliana é beleza, moda. Não é presença em leilão".

E quem rouba a cena por causa de um namoro célebre -como, por exemplo, a atriz Ildi Silva, que ganhou notoriedade como "a namorada do Caetano"? "Sim, [o cachê] aumentou por causa da exposição com o namoro. Mas foi meio a meio: na época, eu estava ganhando espaço em "Paraíso Tropical'", afirma Ildi, que cobra de R$ 12 mil a R$ 20 mil. "E eu não gostava de ir num evento para falar disso, sabe? Já aconteceu de jogar o preço lá em cima para não fechar determinada festa." O cachê de Rodrigo Hilbert, namorado de Fernanda Lima, está cotado em R$ 11 mil; o de Cauã Reymond, namorado de Grazi Massafera, em R$ 20 mil.

A atriz Nívea Stelmann, que estava em "Sete Pecados", na Globo, diz que "o ator que disser que não faz presença está mentindo". Seu cachê está cotado em R$ 12 mil. "Às vezes, é até mais. Se você está na novela das oito, na das seis ou fora do ar, o preço muda." Segundo Nívea, as TVs, em alguns casos, usam as presenças como "barganha" na hora de negociar contratos, propondo redução de salário para os artistas com o argumento de que a exposição numa novela valoriza o passe no mercado das festas.

Para o publicitário Nizan Guanaes, a técnica de "product placement" "não é tão explícita, e por isso é mais eficiente", sendo "tão legítima quanto o merchandising". Nívea Stelmann desconfia: "Não é possível que tenha gente que ainda pense que o artista está ali por amor à marca! É uma indústria", diz. A apresentadora Daniella Cicarelli (cachê em torno de R$ 25 mil) discorda. "Eu acho que as pessoas não percebem, sabia? Porque tem artista que vai [a uma festa] ganhando cachê, tem outro que faz de graça. É uma salada de frutas. Mas, recebendo ou não, o evento tem que ter relação com você. Os 65 anos do picolé Chicabon, gente, posso falar? Adorei!"

"Celebrities" menos consagradas penam para conseguir vaguinha remunerada numa festa. "Tirando a Grazi Massafera e a Sabrina Sato, ex-Big Brother só ganha dinheiro no interior do Brasil ou desfilando no Brás [bairro de São Paulo]. É interessante para um Big Brother ser fotografado no desfile da Chanel? É. É interessante para a Chanel ter um BBB no seu desfile? Não, não é", diz o promoter Helinho Calfat.

Quando ainda está nesse patamar, o (quase) famoso não tem frescura. "Tem gente que quer juntar dinheiro, comprar apartamento e vai até a baile de formatura em Mossoró [RN]. A pessoa precisa pagar as contas", diz Alex Lerner, um dos mais experientes agentes do Rio.

Até Dercy Gonçalves labuta no mercado de "product placement". Cobra de R$ 5 mil a R$ 7 mil "se for uma presencinha de 40 minutos", diz seu empresário, Julinho do Carmo. É verdade que Dercy pediu cachê até para aparecer em sua própria festa de cem anos? "Ah, claro! Quando eu soube que haveria um monte de patrocinador, cobramos, sim: R$ 20 mil."

Um comentário:

bruno reis disse...

Fora que eles não promovem só a marca, mas eles mesmos também, né. A giringonça se retro-alimenta. Bom pra eles.