quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Notas melancólicas - Parte 7


Tenho uma idéia de morte. Bandeira (1886-1968) também a tem.

"A Morte Absoluta"


Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

2 comentários:

Roberta Felix disse...

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

bruno reis disse...

talvez a morte de verdade seja realmente o esquecimento, mas acredito que isso é bem difícil de acontecer. quer dizer, dizem que tudo que a gente faz é justamente pra isso, pra não ser esquecido.