Tenho uma idéia de morte. Bandeira (1886-1968) também a tem.
"A Morte Absoluta"
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.
2 comentários:
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
talvez a morte de verdade seja realmente o esquecimento, mas acredito que isso é bem difícil de acontecer. quer dizer, dizem que tudo que a gente faz é justamente pra isso, pra não ser esquecido.
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