quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Notas melancólicas - Parte 5


Amor e ódio. Dois substantivos historicamente embalados por canções de diversos estilos. O ódio talvez seja apenas um sentimento não-compreendido do próprio amor. O ódio talvez seja o que se herda de um grande amor. Talvez, o poeta canadense Leornad Cohen (1934) já soubesse disso tudo quando lançou o disco Songs of Love and Hate, em 1971. E, senhores, se há um disco que me deixa obscuro, é esse do Cohen.

Considero pela crítica como um dos melhores trabalhos do poeta, Songs of Love and Hate é intenso como um grande amor e ao mesmo tempo triste como a rancor adquirido por um fim de um grande amor. O álbum é foda, meus senhores. Há cerca de um ano, um grande amor me deixou, e o que me salvou muitas vezes da loucura pura e aplicada, em momentos de picos de desespero, foi o disco do Cohen, versado justamente sobre... Amor.

Nas oito canções que compõe o disco, Cohen abrange o amor em múltiplas formas; o amor psicológico, o amor emocional, o amor espiritual, o amor desprezado, tudo embasado por uma dose do mais melancólico veneno, destilado por alguém que conhece realmente a dor provada pela relação amor-ódio. Cohen compõe músicas com visceral conhecimento de causa.

Ademais, o som do álbum é limpo e despojado e, na época de seu lançamento, Cohen já era reconhecido como um dos maiores compositores de seu tempo, atrás apenas do norte-americano Bob Dylan. E Cohen soube construir sua fama de enigmático, o que o tornava ainda mais fascinante para o público que o acompanhava. E acompanha até hoje, pois o bardo canadense, aos 74 anos, continua encantando os fãs em turnês mundiais. A criatividade e a profundidade da música de Cohen mantiveram o público próximo a ele durante mais de quatro décadas a fio, período marcado por altos e baixos, é verdade, mas nunca baixo o suficiente para ser considerado medíocre.

Mas eu gostaria voltar um pouco ao disco citado. Comparando o desempenho vocal do músico com os dos dois discos anteriores (Songs of Leonard Cohen e Songs From a Room, respectivamente de 1967 e 1969), percebe-se claramente uma evolução extraordinária. Acima de qualquer expectativa, Cohen entoa suas melancólicas canções de forma impecável, tornando o disco uma espécie de ponto de equilíbrio na carreira do compositor. Além disso, Cohen atingiu no disco a maturidade como instrumentista e as melodias ao violão alcançaram o ápice de sofisticação, apesar da simplicidade utilizada para a produção do álbum. A voz e o violão de Cohen dominam o disco, guiando-nos às histórias melancólicas escritas pelo poeta.

A intervenção dos demais músicos no disco é feita de maneira inteligente e ponderada, deixando o caminho livre para que ressoe toda a capacidade musical de Cohen. Os arranjos bem trabalhados capturaram Cohen em um dos momentos mais brilhantes do compositor, tornando o Songs of Love and Hate um primor para os amantes da música melancólica. Poucas obras conseguiram chegar tão próximo a essência da melancólica quanto Songs of Love and Hate, disco que recomendo a todos que quiserem chorar inteligentemente um grande amor. Ou um grande ódio. Songs of Love and Hate é digno de uma nota melancolia.

3 comentários:

VINICIUS.MOTA disse...

Bom Dia, Tristeza

Vinicius De Moraes / Adoniran Barbosa

Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

Rô, para mim, nenhuma música é mais melancolicamente linda do que essa. Vc a conhece? Se não, tente escutar na voz de Édson Cordeiro, no Songbook Vinícius de Moraes. Quem sabe ela não a inspira a mais uma Nota Melancólica?

VINICIUS.MOTA disse...

o inspira.

Anônimo disse...

Ô, meu caro Vinícius... Eu a conheço sim, ela é linda. Por sinal, tu me lembraste que as “Notas melancólicas” estão por demais concentradas em discos gringos, e que este pobre melancólico tem algum conhecimento suficiente em MPB para não ignorar a faceta melancólica de nossas canções populares. Já dizia o mesmo Vinícius de Moraes. “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Na verdade, Vinícius, eu penso em dar um tempo nessa melancolia toda, todavia, tu me inspiraste a continuá-la. Recentemente eu finalizei a leitura da biografia do mestre Adoniran Barbosa e estava meso cogitando a possibilidade de escrever alguma nota melancólica sobre o boêmio da garoa paulistana. Obrigado pelas observações e por partilhar tão nobre sentimento comigo, a melancolia.