domingo, 17 de fevereiro de 2008

Eles e elas, eles ou elas?!

Bom, aqui vamos nós.

Primeiro, o que acham do purismo lingüístico? Me refiro ao seguinte: se você escreve “eles” ao se dirigir a homens e mulheres, você tem grandes chances de estar bancando, mesmo sem saber, um tremendo escrotinho.

Explico: as mulheres, ainda em 2008, são oprimidas por nós, homens. E isso não tem nada a ver com cultura ou educação. Quero dizer, tem, sim. O que não pode é uma coisa ser atribuída à falta da outra, entenderam? Posso me considerar uma pessoa educada e instruída. Nos ônibus, mal vejo uma cabeça habitada por fiapos esbranquiçados daquilo que um dia pode ter sido uma basta cabeleira, levanto e cedo o meu lugar. Nas filas, permito que as mulheres tenham preferência. Procuro ser gentil com o gênero oposto na maior parte do tempo. Isso é mais um hábito bobo do que qualquer outra coisa.

Em minha casa, por exemplo, nunca lavei cuecas e demais peças do meu próprio vestuário. Existe uma mulher que faz isso — e muito mais — por mim. Acontece que eu sei que estou errado ao fingir que tudo isso é uma coisa, digamos, mais do que natural, um privilégio que nos foi concedido minutos depois do Big Bang. E como as mulheres tivessem, por alguma razão (cabeleireiro, novelas, fofocas?), se atrasado ao Conclave Primordial, nós, homens, ficamos com as principais regalias do universo: não menstruar, não parir e não lavar e enxaguar as próprias roupas.

Pois bem. Na língua é a mesma história. Não empregamos os artigos femininos para nos referirmos aos dois gêneros por um bom motivo: as mulheres não podem (ou não podiam) representar qualquer discurso que se pretenda racional e universalizante. Ao menos é a desculpa que encontrei aqui pra que tudo isso tenha um dia começado e, mesmo depois de séculos de acontecimentos importantes (a invenção do bambolê e o tetra campeonato de futebol), chegado até nós, mulheres e homens de um novo século.

A questão, portanto, é: que fazer?

O manual do politicamente correto — e o seu inverso, o manual do correto politicamente — nos dizem, pedem, imploram: usem as duas formas. Assim, uma frase inofensiva como Nossos filhos temem os trabalhos que os professores da escola primária lhes infligem cotidianamente se transformaria no monstrengo Nossos (as) filhos (as) temem os trabalhos que os (as) professores (as) da escola primária lhes infligem cotidianamente.

Tem gente que não vê problema nisso. Afinal, são apenas alguns parênteses a mais no texto. Bom, tentem imaginar o Grande Sertão: veredas, Crime e Castigo ou mesmo um poemeto de Ferreira Gullar. Ou Drummond. Ou, por fim, uma belíssima crônica de Afonso Romano de Sant’anna prenhe dessas coisinhas. Sacaram a parada? Não funcionaria. Melhor continuar a oprimir o sexo oposto.

Ou tentar encontrar uma saída que não seja o estúpido e feio “@”. Sim, o “arroba” vale pras listas de e-mails e mal.

5 comentários:

Roberta Felix disse...

Um dia eu ainda pego um dos politicamente corretos e pergunto: se é pra incluir sem qualificar, por que o "os" vem antes do "as"?

Acho que o "todos" coloca todo mundo no mesmo pé. É uma palavra só - e a língua segue princípios de economia, conforme aprendi no ensino médio.

Anônimo disse...

Digam o que for, mas, para mim, isso tudo de os (as) ainda não passa da mais deslavada picaretagem. Mas sou jovem, tempo ainda haverá para que eu me acostume com tais firulas.

Débora Medeiros disse...

Ah, mas a língua muda mesmo... E os cronistas, romancistas e demais gênios da literatura do futuro que se adaptem.

Não sou lá muito adepta do os (as), mas acho que ainda encontram outra forma de modificar a língua, se o argumento for válido mesmo. Se não passar de modismo, o tempo se encarrega de apagar. Mas provavelmente houve mil debates ideológicos pra deixarmos de escrever pharmácia.

bruno reis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
bruno reis disse...

eu acho que não houveram debates ideológicos pra deixar de escrever pharmácia não, quer dizer; primeiro as pessoas devem ter deixado de escrever assim e depois vários debateram se devia-se mudar ou não a gramática. quem ganhou foi quem acreditava que a gramática deve ser razoavelmente flexível aos seus usos no cotidiano, principalmente quando eles se sedimentam. ou seja, tudo isso pra dizer a mesma coisa que vocês: só o tempo vai dizer se essa moda pega ou não. quer dizer, eu normalmente digo ''pessoas'', em vez de ''amigos e amigas''. economia, minha gente, economia.