domingo, 27 de janeiro de 2008

Por que ainda se ouve o eco de velhas reivindicações

A greve de professores da UECE dura 2 meses, mas a sensação é que faz bem mais tempo que as aulas estão suspensas na universidade. Talvez seja porque as paralisações se sucedem desde 2005.

Naquele ano, como relata a professora Vania Vasconcelos, do Departamento de Letras da UECE, o movimento "teve como resultado a contratação de novos professores para os quadros da Instituição, cujos cursos viviam praticamente de contratações temporárias". Em 2006, o foco foi o reajuste salarial, além de melhorias nas instalações. Aí, criaram-se as raízes da presente greve: acreditando na promessa do governador Cid Gomes de discutir o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) logo no primeiro mês de gestão, os professores encerraram a greve de 2006. Cid Gomes tomou posse, emplacou o hit do Ronda do Quarteirão e recorreu na justiça contra decisão do STF, pra adiar indefinidamente o reajuste salarial do PCCV. Temos de convir que até que os professores foram pacientes...

Mas paciência tem limite, principalmente quando o Governo Estadual faz uso cada vez mais recorrente de ferramentas legais porém duvidosas para tolher as reivindicações. Quarta passada, a greve foi declarada ilegal, com multa diária de R$500 pro sindicato e tudo, se as aulas não forem retomadas amanhã, sem que se tenha chegado a um consenso quanto ao reajuste salarial. Não há nem mesmo a garantia de que esse reajuste vai acontecer - seja ao longo de 3 anos, como demandam os professores, seja em 4, como talvez conceda Cid.

Por que tanta má vontade? Dizer que essa greve é corporativista não cola: além do aumento pros professores, existem reivindicações que contemplam a universidade e sua relação com a comunidade como um todo, como a construção do hospital veterinário, o incremento de políticas de assistência estudantil, melhorias na estrutura física dos campi da capital e do interior. Ninguém gosta dos atrasos no calendário letivo, porém a questão é muito maior. "O que afeta a qualidade de ensino não é a desarrumação do calendário, mas sim a evasão de professores, a falta de bibliotecas decentes, de laboratórios, de incentivo à pesquisa...", lembra a professora Vania.

Se a situação não mudar nada com mais essa greve, é muito provável que venha outra em 2008. E por que não? Empurrar com a barriga é que não dá. Ou será que é melhor ter aula de qualquer jeito, sem certeza de aproveitamento?

2 comentários:

VINICIUS.MOTA disse...

O greve na UECE pode ser,para nós da UFC, um lamentável 'test drive' do que está por vir.

Roberta Felix disse...

A greve permanece. É preciso dar o devido destaque à situação: o governo descumpriu decisão judicial sobre a proposta negociada e aceita na greve passada, e agora que os professores cobram o que foi combinado, o governo vem com essa de declarar ilegal a greve. Onde já se viu? ô respeito que o governo do estado demonstra pela categoria; eles resolvem o que vale e o que não vale... querem empurrar a lei do mais poderoso. E em 4 anos o mandato vai ter acabado, quem garante que ele vai cumprir o PCCV em 4 anos? Parece manobra. Não dá pra confiar nesse governo.

Eu tenho a impressão de que o governo está medindo as ações pela repercussão: segurança todo mundo quer, mas educação superior pública é pra quem, mesmo?

Cara, imagino o desânimo do pessoal que se forma lá. Deve ser triste ficar parado, e quando voltar ter todo mundo cansado e desiludido... pra fechar um semestre em dois, três meses. Mas pelo que eu escuto de quem sabe da situação, não tem mesmo condições de ficar nessa.