Meu irmão está longe. Não acredito em mais nada. Me fecho ainda mais intensamente na minha armadura. (Pierre-François em Epiléptico)
Não costumo ler HQs. Nem quando era criança tinha paciência pra histórias em quadrinhos. No geral, achava tudo um pouco estúpido. Menos pela deslumbrante harmonia de corpos bem-talhados do que pelos muitos buracos que via nos roteiros de títulos como X-men, Wolverine, Super-homem e tantos outros. Não exatamente buracos, mas aspectos que me faziam achar as motivações dos heróis um tanto inconsistentes e as batalhas intermitentes sem motivo que as pudesse justificar. Desse modo, passei grande parte da infância e adolescência longe do universo dos super-heróis mais apreciados pelos colegas de mesma idade e condição social. Até tentei me obrigar a gostar de revistas, mas não nunca fui além de dois números de Spawn e dos três da versão 2099 dos mutantes mais famosos do mundo.
Acabo de ler Epiléptico (Conrad Editora, 2007), de David B. É uma revista em quadrinhos, sim. Uma HQ, portanto. Uma história contada por meio de imagens e balõezinhos contendo as falas das personagens. É em preto e branco, não tem as cores berrantes e os efeitos que somente a computação gráfica consegue imprimir a muitas páginas laminadas das revistas mais vendidas em bancas de todo o mundo. Os desenhos não são perfeitos, os personagens não têm queixos quadrados, cabelos esvoaçantes, pernas e braços cujos músculos quase chegam a se desprender do próprio corpo. Seus olhos não disparam raios nem eles podem voar. Os heróis de Epiléptico não exibem quaisquer anomalias que os tornem diferentes. São como você e eu. Mas não foi exatamente por isso que, ao fim das cento e setenta e três páginas do livro, passei a considerá-lo uma das melhores coisas que já li até hoje. Pra falar a verdade, não sei por que a história do francês David B., pseudônimo de Pierre-François Beauchard, me fez dar giros em volta de mim mesmo. A exemplo de Jean-Christophe, o epiléptico do título, estou perdido e só me resta um dragão chinês como companheiro.
Antes de Epiléptico, tinha lido V de Vingança, de Alan Moore. Boa revista, sim. Infinitamente superior ao filme. Antes dela, nem lembro. Acho que foram cinco ou seis números de Watchmen, do mesmo Moore. Se me esforçar bastante, chego, agora, à série que narra de forma dramática a morte do Homem de Aço. Li aos dezessete anos. E aqui se finda o histórico completo de minhas experiências mais ricas com quadrinhos. Não sou, portanto, um grande entendedor do assunto. E é como um quase leigo — acostumado apenas ao universo da literatura e do cinema — que repito: David B. é uma das melhores coisas que já li até hoje.
Seus desenhos são alucinados. Seu senso de humor é fantástico. Ele tem uma escrita literária. Constrói situações que fazem rir e chorar. A história que conta — a sua própria — é dramática. Ele trata de um período muito caro a qualquer um de nós: a infância. Faz isso de forma primorosa. Não é piegas nem saudosista. É implacável com todos. Por isso Joe Sacco o considera um dos melhores quadrinhistas da atualidade. Tem sacadas geniais. Ele é GENIAL. Não tenho medo de dizer isso. David B. é GENIAL.
Sei que ainda é muito cedo pra afirmar uma coisa destas, mas lá vai: tenho a impressão de que minha vida seria um pouco diferente se não tivesse acabado de ler Epiléptico, de David B. Como são dois ou três livros, já nem lembro, estou pensando em comprar o segundo amanhã mesmo e devorá-lo sem dó. Se você é dos que torcem o nariz pros quadrinhos, David B., com sua maestria, certamente deve estar cagando pra isso.
Não costumo ler HQs. Nem quando era criança tinha paciência pra histórias em quadrinhos. No geral, achava tudo um pouco estúpido. Menos pela deslumbrante harmonia de corpos bem-talhados do que pelos muitos buracos que via nos roteiros de títulos como X-men, Wolverine, Super-homem e tantos outros. Não exatamente buracos, mas aspectos que me faziam achar as motivações dos heróis um tanto inconsistentes e as batalhas intermitentes sem motivo que as pudesse justificar. Desse modo, passei grande parte da infância e adolescência longe do universo dos super-heróis mais apreciados pelos colegas de mesma idade e condição social. Até tentei me obrigar a gostar de revistas, mas não nunca fui além de dois números de Spawn e dos três da versão 2099 dos mutantes mais famosos do mundo.
Acabo de ler Epiléptico (Conrad Editora, 2007), de David B. É uma revista em quadrinhos, sim. Uma HQ, portanto. Uma história contada por meio de imagens e balõezinhos contendo as falas das personagens. É em preto e branco, não tem as cores berrantes e os efeitos que somente a computação gráfica consegue imprimir a muitas páginas laminadas das revistas mais vendidas em bancas de todo o mundo. Os desenhos não são perfeitos, os personagens não têm queixos quadrados, cabelos esvoaçantes, pernas e braços cujos músculos quase chegam a se desprender do próprio corpo. Seus olhos não disparam raios nem eles podem voar. Os heróis de Epiléptico não exibem quaisquer anomalias que os tornem diferentes. São como você e eu. Mas não foi exatamente por isso que, ao fim das cento e setenta e três páginas do livro, passei a considerá-lo uma das melhores coisas que já li até hoje. Pra falar a verdade, não sei por que a história do francês David B., pseudônimo de Pierre-François Beauchard, me fez dar giros em volta de mim mesmo. A exemplo de Jean-Christophe, o epiléptico do título, estou perdido e só me resta um dragão chinês como companheiro.
Antes de Epiléptico, tinha lido V de Vingança, de Alan Moore. Boa revista, sim. Infinitamente superior ao filme. Antes dela, nem lembro. Acho que foram cinco ou seis números de Watchmen, do mesmo Moore. Se me esforçar bastante, chego, agora, à série que narra de forma dramática a morte do Homem de Aço. Li aos dezessete anos. E aqui se finda o histórico completo de minhas experiências mais ricas com quadrinhos. Não sou, portanto, um grande entendedor do assunto. E é como um quase leigo — acostumado apenas ao universo da literatura e do cinema — que repito: David B. é uma das melhores coisas que já li até hoje.
Seus desenhos são alucinados. Seu senso de humor é fantástico. Ele tem uma escrita literária. Constrói situações que fazem rir e chorar. A história que conta — a sua própria — é dramática. Ele trata de um período muito caro a qualquer um de nós: a infância. Faz isso de forma primorosa. Não é piegas nem saudosista. É implacável com todos. Por isso Joe Sacco o considera um dos melhores quadrinhistas da atualidade. Tem sacadas geniais. Ele é GENIAL. Não tenho medo de dizer isso. David B. é GENIAL.
Sei que ainda é muito cedo pra afirmar uma coisa destas, mas lá vai: tenho a impressão de que minha vida seria um pouco diferente se não tivesse acabado de ler Epiléptico, de David B. Como são dois ou três livros, já nem lembro, estou pensando em comprar o segundo amanhã mesmo e devorá-lo sem dó. Se você é dos que torcem o nariz pros quadrinhos, David B., com sua maestria, certamente deve estar cagando pra isso.
Epiléptico (Volume I, Conrad Editora), de David B. Preço: quarenta reais.
2 comentários:
Boa resenha, Henrique. Gosto mais de ler suas impressões que quando você destrincha os enredos, revelando surpresas que, às vezes, é melhor o leitor descobrir por si e complementar com as suas observações.
Fiquei curiosa pra ler a HQ, justamente porque você não detalhou tudo o que posso encontrar ;)
aquilo foi uma coisa meio doida... já pensei até em tirar o post do ar. não fiz isso por preguiça mesmo.
acho que fiquei empolgado demais e acabei perdendo a noção das coisas...
valeu pelo toque.
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