Leio nos jornais que o Estado pretende criminalizar o fumo em locais públicos. Leis draconianas não combinam com ambientes democráticos e eu não saberia imaginar algo mais totalitário do que transformar um sujeito até então pacato em um criminoso ignóbil apenas porque ele, inadvertidamente, acendeu um cigarro em uma mesa de bar. Fumar um Derby vagabundo pode virar caso de polícia, vejais vós que prosaico.
Já imagino as dramáticas histórias partilhadas entre detentos num xilindró imundo à guisa de passatempo.
- Fez o quê, irmão? – pergunta um homem com uma cicatriz imensa no rosto.
- Coisa pouca. Assaltei um ônibus escolar cheio de crianças e depois o arremessei num penhasco abaixo – responde o tatuado.
O da cicatriz, entediado com o relato ordinariamente comum do tatuado, volta-se para o outro, escorado num canto.
- E tu, meu camarada?
- Pedi uma cerveja e acendi um Derby. Meus advogados tentarão reduzir a pena para 10 anos..., explica o fumante, com a voz trêmula de quem se sabe realmente encrencado com a Justiça.
- Tu tá fodido, parceiro, conclui o Cicatriz enquanto balança negativamente a cabeça, já com pena daquele pobre diabo.
...
Tudo seria bem melhor se o Estado brasileiro resolvesse criminalizar, vez por outra, os bandidos, nem que fosse apenas para quebrar a rotina. Renderia até capa de jornal. "Justiça clasiffica como 'bandido' um assaltante de banco".
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