Gosto de sussurros. Gosto daquilo falado em voz baixa, transmitido como se segredo fosse. Agrada-me o sigilo belo e profundo das coisas murmuradas; serenas palavras pronunciadas como se fossem a continuação de meus próprios pensamentos, completando-os. Ouvir a voz interna me interessa mais, mesmo quando tenho que ouvi-la em condições tão impróprias como as atuais, nas quais o barulho se faz como uma constante. Ora, se está difícil ouvir o outro, o que dirá escutar-nos a nós mesmos.
Outro dia li uma crônica do jornalista e escritor Fausto Wolff (1940) e não pude conter um sorriso (interno) de satisfação espiritual. Eis um homem que semeia a voz interna em tempos de voz alguma. Transcrevo um trecho do texto, tão sobriamente rico em sentimento. Os parêntesis são meus.
A nova geração, que nasceu depois de 1964, vem ao Veloso (bar em Ipanema, Rio de Janeiro, conhecido, nos anos 70, como reduto de boêmios e intelectuais cariocas) berrar besteiras com suas possantes motos em dia de futebol para esmagar os sacões da velharia. Uma amiga minha disse que esses moços fazem tanto empurro porque o silêncio do deserto mental os perturba e além disso têm o piupiu pequeno. Esses eunucos mentais não sabem dos fantasmas que vivem no Veloso. Os motoristas de ônibus, caso soubessem, seriam mais respeitosos. Irritados, os fantasmas de vez em quando tiram uma cadeira do lugar, dão um cascudo num adolescente, levantam a saia de alguma senhora para não serem esquecidos.
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