domingo, 18 de maio de 2008

Bolhas, bolhas, bolhas...

Bolha 1: momento “Estou perdido aqui”

Sem tempo, sem dinheiro, sem coragem de pedir carona na BR e seguir no rumo das placas, que podem levar e trazer com a mesmíssima facilidade.


Bolha 2: só agora vi

Cão sem dono é legal. Tudo nele é legal. Os atores, a paisagem de Porto Alegre, o Guaíba, as ruas, os pais de Ciro, a namorada de Ciro, a doença da namorada, o cachorro Churras, a madrugada, as cervejas, o russo, o mototaxista, a barriga enorme da mulher do mototaxista etc. Beto Brant e Ciasca acertaram a mão. Cão sem dono é baseado em Até o dia em que o cão morreu, novela do quase gaúcho Daniel Galera (Mãos de Cavalo). Foi lançado no ano passado. Interpretam o casal: Tainá Muller e Júlio Andrade.

Obs.: foi curioso ver-me perdido em algumas falas marcadamente regionais. O sotaque gaúcho às vezes dava um nó nos ouvidos.

Bolha 3: tempo perdido

Os meninos da rua são mesmo impossíveis. Jogam bola ao meio-dia. Espremem-se numa faixa de sombra que cobre o asfalto. Quando a bola é chutada para o outro lado, eles correm e voltam apressados. Jogam no mano a mano, ou seja, a disputa é individual. Do lado de fora, na calçada, outros meninos esperam a sua vez de jogar na faixa de sombra. Em pé, na porta de casa, sou testemunha de um gol claro que passou como bola na trave. “A bola bateu aqui e subiu”, defende-se um. O adversário, menorzinho, baixa a cabeça e amarga o roubo descarado. Não digo nada. Não gosto mesmo de interferir na vida dos meninos da rua. Eles que se virem com os seus jogos de bola.

À tarde, é a vez do futevôlei. Aqui ele é praticado na esquina. Não há redes nem areia de praia. Tudo é desenhado no asfalto, que, a essa altura, está bem mais frio. Os pés podem pisá-lo sem medo.

Bolha 4: sons

Domingo. A trilha sonora é pagode. Às sextas-feiras, metal. Noutras vezes, hip hop. A rua nuca ouve forró ou Chico Buarque. Vezenquando reggae.

Na esquina, grupos de homens jogam dominó e baralho. Na hora do almoço, comem sarrabulho e panelada. Bebem cerveja. À noite, muitos deles vão ao estádio assistir a alguma partida do Ceará ou do Fortaleza. Quer dizer: iam. Agora, o Presidente Vargas está interditado. Eles escutam o jogo no rádio.

Nenhum comentário: