quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Notas melancólicas - Parte 1


Dias atrás, diagnosticaram-me depressão leve. Pûs-me, desde então, a refletir sobre o assunto, tal qual um filósofo que, tendo as roupas em chamas, para e pensa. "Que interessante, minhas roupas estão pegando fogo. O que isso significa?". Pois bem, reflito. E pesquiso também, afinal, se tenho depressão, quero saber tudo acerca dela; quero cercá-la, compreendê-la, respeitá-la, mas não quero tratá-la, isso não. Certamente não compreendeis minha atitude, caros leitores. Não saberei explicar-vos o porquê disso, mas é assim que vai ser: se tenho depressão, que eu a tenha ainda mais.

A melancolia fala de uma experiência humana peculiar. A melancolia deve ser diferenciada da tristeza, reação até certo ponto normal aos embates da existência. A melancolia também deve ser diferenciada da depressão, como atualmente diagnosticada pelos médicos: um quadro clínico e psicológico para o qual concorrem fatores biológicos, frequentemente genéticos, e agravos de natureza psicossocial.
A depressão é um problema extremamente disseminado. As cifras a respeito variam amplamente, porque se trata de uma situação influenciada por numerosas variáveis, inclusive culturais; mas nos Estados Unidos estima-se que cerca de 12% da população – 20 milhões de pessoas – será acometida de depressão ao longo da vida. Depressão é encontrada em até 30% das pessoas que buscam os serviços de assistência médica geral (O suicídio, que representa o desfecho mais sombrio da depressão grave, também não é uma situação rara; dados da Organização Mundial da Saúde - OMS - estimam que 1 milhão de pessoas morrem por ano no mundo por essa causa. Ainda segundo a OMS, projeta-se que esse número chegue a 1,5 milhão de pessoas em 2020).

A doença pode apresentar-se como depressão propriamente dita, como distimia, que é uma forma crônica, menos severa, e como transtorno bipolar (ou doença maníaco-depressiva), caracterizado por alternância súbita ou gradual de depressão e mania. A depressão se manifesta por tristeza permanente, não raro combinada com ansiedade, sentimentos de desesperança e desvalia, perda de interesse pelo trabalho, pela diversão, pelo sexo, cansaço, dificuldade de concentração, sonolência ou, ao contrário, insônia, perda de apetite ou, ao contrário, necessidade de comer, pensamentos de morte e de suicídio. Na mania, a pessoa se mostra hiperativa, com uma energia aparentemente inesgotável; dorme pouco, fala sem cessar, tem projetos grandiosos e pouco realistas; é irritável, não raro agressiva. Não tratada, a mania evolui para a psicose franca. Alguns tipos de depressão e a desordem bipolar ocorrem em famílias, o que sugere uma predisposição hereditária, biológica. Mas a eclosão da doença depende de outros fatores. Doenças orgânicas, como acidente vascular cerebral, doença de Parkinson, enfermidades cardíacas e desordens hormonais podem estas associadas ao surgimento do transtorno depressivo. A depressão está freqüentemente ligada a alterações na estrutura e na função do cérebro. É mais freqüente em mulheres, o que pode decorrer tanto de fatores hormonais como de sobrecarga emocional. Existe uma condição conhecida como depressão pós-parto em que, de novo, associa-se o estresse da responsabilidade pela criança recém-nascida com alterações hormonais. As mulheres tentam mais o suicído que os homens, mas nestes a taxa de óbito pode ser até quatro vezes maior.

A depressão nos homens pode ser mascarada pelo álcool, pelas drogas, pelo trabalho compulsivo; manifesta-se mais como irritação e raiva do que como desamparo e desesperanca. Homens deprimidos estão menos dispostos a buscar ajuda do que mulheres. A depressão também é comum em idosos e criancas; nestas pode ocultar-se sob a aparência de uma doença orgânica ou pela recusa de ir à escola, por exemplo, ou ainda pelo temor de que o pai ou a mãe morram.

2 comentários:

Débora Medeiros disse...

Mas e contigo, como tá sendo?

Às vezes, me parece que vivemos em uma sociedade que supervaloriza a felicida, a atividade, a falta de tempo pra refletir. E, quando refletimos, a melancolia é uma companheira constante.

Yuri Leonardo disse...

Melancolia, do grego "melas kholie" (melas: negro; kholé: cólico, relativo à bile). Os velhos gregos, na medicina de Hipócrates, acreditavam em quatro fluídos que percorriam nosso corpo: bile negra, bile amarela, sangue ( e fleuma..
Talvez todo mundo seja um equilíbrio bem tenso disso.
O estranho era que eles acreditavam que a bile amarela era ligada à maturidade. Com o passar dos anos, ou das experiências, a bile amarela se transformava em bile negra, ligada à velhice.
Às vezes eu penso que esses gregos sabiam demais.