Acosso o silêncio, sem, contudo, obtê-lo. Aqui ou alhures, só encontro gritos de pessoas, barulho das televisões e dos automóveis – os dois aparelhos mais ruidosos já criados pela imaginação dos homens. Meu bilhete de despedida seria (será?) sucinto e taxativo. “Fui à busca do silêncio, favor, não interromper”.
Mas as coisas serão diferentes lá na biblioteca de Borges. Ah se serão... Só o Nada será permitido. O único som ouvido será o do farfalhar das páginas sendo passadas, quando não a harpa de alguma bibliotecária divina a executar uma suave melodia qualquer (mas bem baixinho mesmo, hein!). Invariavelmente, elas estarão nuas. Alguém, precavido, poderá argumentar:
- Belas moças nuas distrairão a atenção dos leitores.
Ao passo em que eu lhe responderei.
- A beleza das moças comungar-se-á com as dos livros de modo a torná-las uma só grande beleza.
Outro, mais correto politicamente, ainda há de me perguntar.
- E as mulheres feias, não se encontrarão por lá?
A esse, responderei.
- As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental. Nada mais abominável que uma mulher feia. Aqui é a Biblioteca de Borges, porra! Nada pode me ferir a estética visual ou intelectual.
Ficarei a sós com os livros. Vez por outra, para não passar por anti-social, convidarei Deus para tomar comigo o chá das cinco.
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